domingo, 9 de janeiro de 2011

A História da camisinha...


Uma das primeiras menções ao sexo seguro está na mitologia grega. Diz a lenda que Procris, filha do rei Erechteus, de Atenas, teve um romance com Minos, filho do todo-poderoso Zeus. Como o sêmen do rapaz era cheio de serpentes e escorpiões, Procris teria envolvido o órgão sexual dele em uma bexiga de cabra. Graças a isso, ela teria evitado o destino fatal reservado às outras amantes de Minos.

O mito de Procris aparentemente indica que os gregos, antes da era cristã, já usavam materiais de origem animal para evitar a transmissão de doenças durante o sexo. Mas, segundo o jornalista francês Vincent Vidal, autor do divertido La Petite Histoire du Préservatif (“A pequena história do preservativo”, inédito no Brasil), a invenção do artefato parece ter ocorrido apenas no século 10, na Ásia. Os chineses improvisavam uma camisinha usando papel de seda lubrificado com óleos. Já os japoneses utilizavam um acessório rígido – e aparentemente muito incômodo – feito de carapaça de tartaruga.

No Ocidente, o uso da camisinha (como quase tudo relacionado ao sexo) foi tabu até o fim da Idade Média. A primeira menção ao preservativo só foi publicada em 1564, num tratado médico: o italiano Gabriel Fallope, professor de anatomia, descreveu uma capa de linho embebida num líquido feito com ervas e absinto. A parafernália ajudaria a manter o pênis livre de infecções. Pouco tempo depois, outros textos franceses relataram o uso de um sachê peniano feito de tecido. Ele era usado para combater o “mal napolitano”, nome dado pelos franceses à sífilis, doença sexualmente transmissível (que, ironicamente, era chamada pelos italianos de “mal francês”).

O nome “camisinha”, aliás, surgiu na época do esforço contra a sífilis, graças ao dramaturgo inglês William Shakespeare, que nasceu por volta de 1564 e morreu em 1616. Um dos autores que mais bem compreenderam as peculiaridades dos relacionamentos humanos, ele chamou o apetrecho para proteger o pênis de “luva-de-vênus”, em homenagem à deusa romana do amor. Em português, o nome ficou sendo “camisa-de-vênus”, que deu origem ao apelido carinhoso usado hoje em dia.

Já o termo condom, nome pelo qual a camisinha é internacionalmente conhecida (em francês e inglês, por exemplo), tem origens controversas. A mais difundida é a de que foi inventada por um tal de doutor Condom, médico da corte do rei inglês Charles II, que fabricou um pequeno saco a partir das tripas de intestino de carneiro. Outra hipótese é a de que o nome venha da cidade de Condom, na França, onde os açougueiros teriam tido a mesma idéia. Mas a suposição mais aceita pelos etimólogos é de que condom venha da palavra latina condere, que quer dizer “esconder” ou “proteger”.

Questão de família

Em meados do século 17, na Europa, surgiram as primeiras referências à camisinha como meio de evitar a gravidez. O objetivo principal não era o planejamento familiar, mas a diminuição do número de filhos ilegítimos. Apesar de nem sempre funcionarem, as camisinhas tiveram largo uso no século 18. Um dos que mais se beneficiaram delas foi o rei francês Luís XIV, que pôde se preocupar menos com as dores de cabeça causadas pelo nascimento de filhos bastardos. Na chique corte de Versalhes, nos arredores de Paris, os preservativos não eram feitos de tripas de animais, mas de veludo ou seda. Enquanto isso, nas ruas parisienses, as camisinhas eram vendidas clandestinamente. O mo­tivo era religioso: como hoje, a Igreja Católica pregava que o sexo deveria ser praticado entre marido e mulher e servir somente para a reprodução.

Se em Paris a marcação sobre a camisinha era cerrada, em Londres as coisas eram mais liberais. Na metade do século 18, uma então célebre cafetina conhecida como miss Phillips passou a fabricar e vender camisinhas de tripa de carneiro para seus clientes. Outra senhora libertina, uma tal miss Perkins, copiou a idéia e abriu um estabelecimento semelhante. A disputa entre as duas incendiou o mercado do sexo, mas acabou indignando as autoridades londrinas, que proibiram a venda de camisinhas.

A polêmica a respeito da camisinha acabou envolvendo dois dos mais famosos devassos da Europa. Em A Filosofia na Alcova, escrito em 1787, o marquês de Sade recomendava o uso, no pênis, de sacos de pele animal. O objetivo era evitar as conseqüências indesejáveis das orgias. Mas, na mesma época em que o nobre francês fazia apologia da prevenção, a camisinha ganhava um inimigo inesperado. Giácomo Casanova, lendário conquistador italiano, considerava o artefato incômodo demais. “Jamais me valerei de uma pele morta para provar que estou vivo”, teria dito ele. Mesmo assim, Casanova parece ter se rendido à necessidade da camisinha. Depois de pegar sífilis pela 11ª vez, claro.

Na França, a legalização veio com a Revolução Francesa, quando surgiu uma loja parisiense especializada em camisinhas. Os clientes, cavalheiros de variados países, passavam por alguns constrangimentos. Como os preservativos eram costurados sob medida, os homens precisavam ser convencidos pelos vendedores a levar o tamanho apropriado, sem exagerar.

No fim do século 18, as camisinhas continuavam proibidas na Inglaterra. Mas, em 1798, o economista britânico Thomas Malthus divulgou uma tese que gerou pavor: o crescimento da população seria sempre maior que o aumento da capacidade de produzir comida, o que levaria a humanidade à miséria. Como era pastor, Malthus defendia a abstinência para controlar a natalidade. Mas, inspiradas por ele, as autoridades britânicas passaram a fazer vista grossa ao uso dos preservativos.

Ciclo da borracha

Enquanto os europeus ainda se viravam com camisinhas feitas de pano, pele ou entranhas de animais, um americano fez uma descoberta revolucionária. Em 1839, Charles Goodyear descobriu a vulcanização.

Com aquecimento e adição de enxofre, a borracha se tornava bastante maleável e resistente, capaz de ser moldada das mais diversas formas.

O preservativo de borracha só apareceu na Europa em 1870. Nesse ano, o escocês Mac Intosh passou a fazer o produto em série. No verão, sua fábrica fazia balões para crianças. No inverno, ela se encarregava de tornar mais seguras as brincadeiras dos adultos que se escondiam do frio. As camisinhas de borracha logo se espalharam pela Grã-Bretanha. Em 1883, a criatividade já tinha chegado às embalagens: alguns pacotes vinham com o rosto do primeiro-ministro inglês William Gladstone e da rainha Vitória.

No fim do século 19, os preservativos ainda não eram descartáveis – nas farmácias francesas, por exemplo, eram vendidos com garantia de cinco anos. E, apesar da concorrência das versões de borracha, as camisinhas feitas com tecidos animais só desapareceriam no começo do século 20. Em 1910, ainda se tentou usar a bexiga natatória dos peixes como matéria-prima, mas a iniciativa não vingou.

Nas grandes cidades européias, lojas especializadas em higiene pessoal começaram a vender modelos bastante requintados de camisinha. “A riqueza e a diversidade dos produtos incluía preservativos perfumados, com formas e texturas surpreendentes, vendidos com discrição ou muito bem disfarçados sob a fachada de uma honrosa caixa de charutos Havana”, escreve Vincent Vidal. Mas, mesmo com tanta modernidade, as camisinhas não escaparam de uma nova proibição na França. Em 1920, após as milhões de mortes causadas pela Primeira Guerra e pela epidemia de gripe espanhola, o governo do presidente Raymond Poincaré proibiu qualquer método anticoncepcional. Que­ria estimular a população a ter mais filhos. A restrição foi suspensa tempos depois.

Em 1930, chegou ao mercado a inovação que deu às camisinhas sua cara atual. Elas passaram a ser feitas de látex e, enfim, se tornaram descartáveis. Enquanto os europeus aderiam em massa à novidade, os americanos de diversos estados ainda eram proibidos de comprar camisinhas. Para piorar, na Segunda Guerra, a única fábrica de borracha dos Estados Unidos acabou sendo bombardeada em 1941, durante o ataque japonês a Pearl Harbor. Ela pararia de fazer camisinhas logo depois.

Os americanos, aliás, foram responsáveis por colocar no mercado um invento que, por muito tempo, desmoralizou a camisinha. Em 1961, surgiu a pílula anticoncepcional. Tomando hormônios, as mulheres acabavam com o perigo de engravidar. Ignorando as doenças sexualmente transmissíveis, muita gente abandonou o preservativo. Para completar, a crise do petróleo, na década de 1970, faz o preço da borracha sintética disparar.

A camisinha só recuperaria sua popularidade nos anos 80, de maneira trágica. O surgimento da aids fez com que o mundo voltasse a temer o sexo sem proteção. Para a geração nascida depois da descoberta do vírus HIV, causador da doença, o preservativo se tornou um acessório indispensável.


Sexo sim, filho não
Sem a camisinha, mulheres faziam de tudo para não engravidar

Os despreocupados homens só começaram a usar a camisinha como método contraceptivo no século 17. Bem antes disso, as mulheres já tinham seus segredos para (tentar) evitar a gravidez. No Egito, por volta de 1850 a.C., elas lambuzavam a região genital com mel ou com uma pomada feita de... excrementos de crocodilo! Aparentemente funcionava: por serem muito alcalinas (o oposto de ácido), as fezes do réptil matariam os espermatozóides. Mais de mil anos depois, na Grécia antiga, a moda entre as mulheres era ferver testículos de burro e passar o líquido resultante na vagina. Como esse animal, híbrido do cavalo e do jumento, é incapaz de ter filhos, as gregas acreditavam que podiam ficar inférteis temporariamente.
Na Idade Média, o teólogo alemão Alberto, o Grande, prescrevia poções feitas com órgãos sexuais de touros para evitar filhos. A solução mais popular daquela época, entretanto, eram as esponjas vaginais. Eram tampões feitos de folhas de menta e acácia, ou então de cera de abelhas, que tinham a função de absorver o sêmen. O problema é que eles só eram inseridos na vagina depois da relação sexual – tarde demais, como sabemos hoje.

Fonte: Super Interessante.

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