A inflação será o maior problema da China em 2011, especialmente no primeiro semestre, mas poucos analistas acreditam que as medidas de contenção que o governo será obrigado a adotar levem a um pouso forçado da economia. A maioria aposta em uma aterrissagem suave, com o crescimento rondando a casa dos 9%.
A desaceleração é vista como necessária em razão dos temores de superaquecimento despertados pela expansão acima do esperado no quarto trimestre do ano passado, que levou a um aumento de 10,3% no Produto Interno Bruto (PIB) de 2010.
'A inflação é significativa, mas manejável', avaliou Arthur Kroeber, da consultoria Dragonomics. Em sua avaliação, o crescimento continuará alto em 2011 e poderá fechar o ano em 9%, apesar do esperado aperto monetário.
Nesse ritmo de expansão, Kroeber estima que o governo conseguirá manter o índice de preços nos limites da meta oficial de 4%. Mas se o crescimento voltar à casa dos dois dígitos, as pressões inflacionárias também aumentarão, o que exigirá medidas mais drásticas para esfriar a atividade econômica.
Depois da divulgação do PIB de 2010, Wang Tao, economista-chefe do UBS na China, elevou de 9% para 9,6% sua previsão de crescimento para 2011, que foi acompanhada da alta na estimativa de inflação de 4,3% para 4,8%.
Ainda assim, Wang não acredita que o governo adotará medidas drásticas de contenção. Segundo ela, as autoridades de Pequim ainda estão inseguras com a retomada do crescimento nos Estados Unidos e na Europa e não acreditam que a inflação dos alimentos seja resultado da expansão monetária - portanto, não seria amenizada com alta de juros ou aumento do depósito compulsório dos bancos.
Juros em alta. A economista espera que as taxas de juros subam um ponto porcentual ao longo dos próximos 12 meses e aposta em várias elevações do depósito compulsório, que é o porcentual dos depósitos que os bancos devem deixar imobilizado, diminuindo a quantidade de dinheiro disponível para o crédito.
A inesperada aceleração do crescimento no quarto trimestre de 2010 e os altos índices de inflação levarão o governo a elevar os juros nas próximas semanas, avalia Qu Hongbin, economista-chefe do HSBC para a China.
A desaceleração da inflação de 5,1% em novembro para 4,6% no mês seguinte é 'temporária', ressaltou, e o indicador deverá subir para algo entre 5% e 6% nos próximos meses, para ceder um pouco no segundo semestre.
Mas o aperto monetário não impedirá a manutenção de um alto ritmo de crescimento. Os motores serão os investimentos, a construção de casas populares, os cerca de 100 mil projetos de infraestrutura em andamento e a expansão do consumo, estimulada pela elevação da renda, observou Qu.
O cenário de Stephen Green, economista-chefe do Standard Chartered para a China, também não contempla um pouso forçado da economia, mas trabalha com um índice de crescimento mais modesto, de 8,5%.
O forte ritmo de crescimento do quarto trimestre ampliou o espaço para o governo adotar medidas de restrição ao crédito e Green acredita que a primeira alta da taxa de juros de 2011 poderá vir na primeira semana de fevereiro.
Fornecedor. O comportamento da economia chinesa é fundamental para o Brasil, que destinou ao país asiático 15,25% de suas exportações em 2010, com aumento de 47% em relação a 2009, para US$ 30,79 bilhões.
O produto que mais contribuiu para a expansão foi o minério de ferro, cujos embarques somaram US$ 13,34 bilhões, 70% a mais que em 2009. O produto liderou a pauta de exportações do Brasil no ano passado, com US$ 28,9 bilhões, quase metade dos quais destinada à China.
Com a esperada desaceleração do crescimento e a redução na febre de construções e de projetos de infraestrutura experimentada nos últimos dois anos, a demanda da China por minério de ferro poderá aumentar em ritmo inferior ao do ano passado, mas tudo indica que continuará a se expandir.
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