Na condição de maior credor dos Estados Unidos, a China tem 'todo o direito' de exigir que Washington enfrente os problemas estruturais de seu endividamento e garanta a segurança dos ativos em dólar controlados por Pequim, afirmou ontem editorial da agência oficial de notícias 'Xinhua', que também defendeu 'supervisão internacional' sobre a emissão de dólares e a adoção de uma nova moeda global de reserva de valor.
O governo chinês usou palavras duras, dizendo que Washington precisa 'curar seu vício em dívidas' e 'viver com seus próprios meios'. O comentário foi uma resposta ao rebaixamento da nota de crédito norte-americana pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, anunciado sexta-feira.
A decisão e o prolongado impasse em torno do aumento do teto de endividamento dos EUA evidenciaram os riscos da política chinesa de acumulação de reservas internacionais, que atingiram em junho a estratosférica quantia de US$ 3,2 trilhões, dos quais 70% estão aplicados em ativos denominados em dólar.
As autoridades de Pequim temem a erosão do valor de sua poupança externa com uma eventual persistente depreciação da moeda norte-americana. O editorial de ontem refletiu a preocupação com a excessiva dependência do dólar e o papel dominante que ele desempenha no sistema financeiro global.
A adoção de uma 'nova, estável e segura' moeda de reserva global 'pode ser uma opção para evitar a catástrofe provocada por um único país', sustentou o texto, que também criticou o impasse no Congresso em torno do teto de endividamento. '(Os EUA) deveriam abandonar as velhas práticas de permitir que a política doméstica eleitoral faça a economia global de refém e de contar com os bolsos dos principais países superavitários para sustentar seus déficits perenes', afirma o editorial.
Falta de opção. A China lidera o ranking dos credores internacionais dos norte-americanos, com pelo menos US$ 1,16 trilhão em títulos emitidos por Washington. Apesar de toda a retórica de Pequim e da promessa de diversificação das reservas, é provável que o país continue a investir em bônus norte-americanos, por absoluta falta de opção.
A Europa também enfrenta problemas com seu nível de endividamento e o tamanho de seu mercado de títulos não é grande o suficiente para absorver a gigantesca demanda chinesa, que continuará em alta, a menos que haja uma transformação no modelo de crescimento do país.
Nos seis meses entre dezembro de 2010 e junho de 2011, as reservas internacionais controladas por Pequim saltaram de US$ 2,85 trilhões para US$ 3,2 trilhões - só o aumento de US$ 450 bilhões no período supera o total das reservas de US$ 336 bilhões detidas pelo Brasil. A previsão de analistas é que o valor chegue a pelo menos US$ 3,5 trilhões no fim do ano, o que significa que a China precisará encontrar onde investir US$ 300 bilhões, e há poucas opções além dos títulos do Tesouro dos EUA.
O grande desafio para Pequim é mudar a política que leva o país a acumular um volume de reservas que supera em muito o patamar considerado razoável para se proteger contra turbulências externas.
O regime de câmbio semifixo é o principal fator que infla a montanha de recursos externos administrada pelo Banco do Povo da China. Para impedir a apreciação do yuan, a autoridade monetária compra os dólares que entram no país, emitindo em troca moeda nacional.
Depois, o banco central vende títulos no mercado para reduzir a quantidade de dinheiro em circulação, em uma tentativa de evitar a inflação e a formação de bolhas de ativos. Alguns economistas acreditam que a chamada 'esterilização' não está sendo eficaz para previr a elevação de preços na economia chinesa e também defendem mudança no modelo cambial.
O surgimento de uma nova moeda global de reserva de valor poderia reduzir a dependência da China em relação ao dólar e ampliar as possibilidades de investimentos do país. Mas esse é um processo que pode levar anos -ou décadas - para estar concluído.
As autoridades de Pequim defenderam pela primeira vez a substituição do dólar como reserva de valor em março de 2009, quando cresciam os temores de desvalorização da moeda norte-americana em razão do aumento do endividamento para financiar o pacote de estímulo à economia adotado em 2008.
'O objetivo desejável da reforma do sistema monetário é a criação de uma moeda de reserva internacional que seja desconectada de nações e capaz de permanecer estável no longo prazo, removendo assim as deficiências inerentes à utilização de moedas nacionais', escreveu na época o presidente do banco central, Zhou Xiaochuan, no documento em que propôs a mudança.
Por Cláudia Trevisan, estadao.com.br
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Que feio para o tão grande e forte Estados Unidos... rs
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