sábado, 14 de novembro de 2009

Maria Callas: uma mulher admirada, mas não amada




Em 1958, Maria Callas encantou a plateia do São Carlos com La Traviata. Cinquenta anos depois, a vida de “La Divina” é tema de uma exposição em Lisboa. Catarina Mendonça Ferreira foi ver.

Normalmente, numa ópera, as pessoas recostam-se na cadeira e fecham os olhos para saborear melhor a música. Isso não acontecia com Callas. O público acompanhava atentamente os seus movimentos. Maria Callas sabia manter a comunicação com o público, sem ser apenas a cantar”, conta o produtor Andy Anderson, no documentário “ Maria Callas: Life and Art” (1987) que pode agora ser visto na “Exposição de Lisboa”, no Museu da Electricidade.

As cortinas pretas que os visitantes atravessam no início da exposição indicam a entrada para um palco que revela alguns momentos da vida da mulher e cantora que foi considerada a Soprano Assoluto do século XX.

Vestidos, jóias e acessórios da colecção de Bruno Tosi (presidente da Associazione Internazionale Maria Callas) e a correspondência trocada com Aristóteles Onassis (por altura do romance com Jacqueline Kennedy), Pier Paolo Pasolini e Maurice Béjart, são alguns dos adereços que compõem esta mostra e que os visitantes vão poder ver sempre acompanhados pela voz de Callas. Por vezes, por causa disto, até se torna difícil a concentração naquilo que se está a ver. Mas não no mau sentido. Apenas porque é impossível ficar indiferente a esta voz.

Para além da sua carreira, Maria Callas foi uma das mulheres mais elegantes do século passado. Na exposição estão os vestidos que usou em espectáculos e galas. Está lá, por exemplo, o vestido que usou em “La Vestale”, danificado no incêndio do teatro La Fenice em 1996; um vestido de noite em malha de prata oferecido por Onassis; e o vestido que usou na sua última actuação, em 1974, no Japão. Todos eles magníficas criações de grandes estilistas como Biki, Yves Saint Laurent ou Christian Dior. Várias ventoinhas ligadas e estrategicamente colocadas fazem esvoaçar os vestidos, recriando o glamour da época.

A enfâse desta mostra é dada à sua carreira, mas a sua vida pessoal, pela projecção que teve também está retratada na exposição. Numa carta manuscrita, Callas reafirma o seu amor incondicional por Onassis (1968): “Preciso do teu afecto e da tua ternura. Sou tua. Faz de mim o que quiseres. A tua alma. Maria.” Durante algum tempo Callas e Onassis foram o casal perfeito. Ele, o grego mais rico do mundo. Ela, a grega mais famosa do mundo. Uma relação que abalou a vida da soprano.

Para celebrar os 50 anos da Traviata de Lisboa, também é reconstituído nesta exposição o cenário do Acto II de La Traviata de 1958, com os telões originais de Alfredo Furiga, pintor e cenógrafo, e uma cópia do vestido que Callas usou. Até as cadeiras do São Carlos estão lá, mas agora com auscultadores que convidam os visitantes a escutar uma gravação do espectáculo que ficou conhecido como uma das noites mais memoráveis da carreira de Callas. Uma mulher que viveu para a música e para o amor. Morreu quando perdeu ambos. Precocemente, aos 53 anos de idade.

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