domingo, 24 de junho de 2012

Desabafo: Filho de um Alcoólatra - Parte 02


Era meu aniversário de 17 anos.
Eu estava trabalhando, feliz.
As coisas em casa estavam complicadas financeiramente, mas estávamos bem.
Eu continuava trabalhando na academia de ginástica, mas agora das 07:00 horas até às 18:00 horas.
Ia pra casa e cuidava de meu irmão.
De repente quando olho para a entrada da academia vejo aquele homem.
Eu não sabia o que fazer, já faziam uns 6 meses que não o via. Não tive reação.
Ele disse que tinha vindo me parabenizar pelo meu aniversário... Tentou me abraçar, mas eu apenas disse obrigado e estendi a mão.
Ele tentou falar algo, mas eu não sei como, pois não me lembro mesmo, eu o dispensei.
Perdi meu emprego alguns meses depois com a desculpa de "tempos difíceis". Na verdade eu sabia que era por causa da minha idade e do alistamento militar.
Não conseguia emprego em lugar algum, então voltei a estudar.
Não me adaptei ao colégio que ficava ao lado de casa, nem ao outro que ficava um pouco mais distante.
Bairro diferente, pessoas diferentes... Não estava conseguindo me adaptar....
Fui conseguir me adaptar num perto da casa de minha avó.
Só que tinha um problema, eu tinha que tomar dois ônibus para ir e mais dois para voltar...
Minha mãe não tinha como arcar com essa despesa, então eu tomava um ônibus e terminava o percurso andando.
Não me lembro bem, mas já fazia mais de uma ano que não via minha avó.
Não me lembro porque também, voltamos a nos ver e nos falar.
Meu pai já não morava com ela. Tinha arrumado um emprego e se mudado.
Voltei a falar com ele também e pedi ajuda para continuar estudando.
Ele disse que iria me ajudar, desde que eu limpasse e cozinhasse para ele... Tudo bem... rs
Como ele morava mais perto do colégio, às vezes eu dormia na casa dele.
Um certo dia, era inverno, minha avó tinha ido visitá-lo e depois foi para casa.
Eu fui dormir como de costume e num determinado momento, acordei num susto!
Meu pai tinha caído em cima de mim. Sem entender o que tinha acontecido, eu tentei acordar e vi que ele já estava bêbado e que caiu porque estava tentando pegar uma garrafa de bebida que tinha escondido em cima do guarda roupa do meu quarto.
Eu reclamei, falei para ele que tinha me machucado, que tudo por causa da  bendita bebida!!!
Ele se irritou, falou um monte, me agarrou, me arrastou e me colocou de pijama para fora da casa dele.
Me jogou no corredor do prédio, fechou, trancou a porta e pronto.
Eu não sabia o que fazer. Não conhecia ninguém no prédio. Não sabia a hora que era, só que era tarde da noite.
Fazia frio, muito frio. Eu apenas me sentei na escada e fiquei ali, até de manhã, quando ele resolveu abrir a porta...
Aconteceram tantas coias nesses anos todos, mas eu não me lembro de todas e outras não quero escrever....
Tentei ajudar este homem.
Eu tinha 18 anos, e tinha que cuidar dele, ajudar minha mãe, meu irmão, minha avó, minha tia....
Eu passava a semana entre a casa de todos eles. Cada dia dormia na casa de um.
Meu pai continuou a beber, mas nunca mais me bateu.
Aos 20 anos eu vim para cá. 
Minha avó morreu depois de um ano e meio. Meu pai voltou a morar com ela, pois não parava em emprego algum por causa da bebida.
Dizem que um dia ela resolveu parar e ver quem realmente o filho era, ou o que se tornara.
Dizem que ela chorava e daquele dia em diante, nunca mais tomou seus remédios e acabou morrendo...
Eu fui para o Brasil alguns meses depois, resolver algumas coisas a pedido de minha tia, irmã de meu pai. Conversei com meu pai, disse a ele que pagaria um tratamento e tudo mais.
Deixei bem claro que ele teria que escolher entre a bebida ou falar comigo...
Ele escolheu a bebida e eu nunca mais falei com ele depois daquele dia...
Vocês não fazem ideia das coisas que ele já tinha feito. Entre as menos piores,  vendeu tudo que era de minha avó e não deu um centavo sequer a irmã que tinha três filhos menores de idade e tinha sido abandonada pelo marido...
Recebeu a pensão e a aposentadoria de minha avó por meses....
Apesar de tudo, meu pai me via como um amigo.
Eu sempre fui um filho carinhoso. Cuidava dele sempre, mesmo na época que ele me batia.
Ouvia seus histórias, seus lamentos...
Conhecia meu pai  melhor talvez que a própria mãe ou qualquer outra pessoa....
Alguns anos depois de ter deixado o Brasil e nunca mais ter falado com ele, fui informado de sua morte.
Uma morte horrível...
Horrível porque ele morreu da forma que ele mais temia. E eu sabia disso porque ele inúmeras vezes tinha me contado.
Não me sinto culpado, ou negligente. Fui mais que um filho durante anos. Fiz aquilo que achava ser certo, ou que podia fazer.
Hoje, eu tento me lembrar daquele pai que tive na infância.
Aquela pai que era meu "super homem".
Apesar de tudo que passei nas mãos de meu pai, nunca deixei de amá-lo, apenas não tinha como conviver com ele e a bebida...
Seja lá onde ele esteja agora, espero que esteja bem e que seja feliz.
Abraxos.

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2 comentários:

  1. Esse sentimento de amor que leva dentro de você é muito importante pra vocês dois!
    Tudo passa, e se renova, e melhora. Assim será com ele também. Parabéns por amparar e amar.
    Bjks

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    Respostas
    1. Luciana,

      acredito que temos uma missão aqui na Terra, que viemos, que estamos aqui por algo mais que roupas e posição social.
      Fiz o que meu coração mandou.
      Fiz o que pude no momento.
      Fico feliz que tenha comentado, pois é algo muito forte e íntimo que compartilhe.
      Beijos e obrigado.

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