Autor: Francisco Noriyuki Sato – Formado em jornalismo e publicidade, ambos pela Universidade de São Paulo, foi um dos fundadores e presidente da ABRADEMI – Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações. Autor do livro “História do Japão em Mangá”, e do álbum “A Filosofia do Samurai na Administração Japonesa”, fez a adaptação para o português do livro “História do Xintoísmo”. Foi vice-presidente da Comunidade Budista Soto Zenshu da América do Sul, é Diretor de Eventos Culturais da ACAL – Associação Cultural e Assistencial da Liberdade.
A moçada no Brasil hoje pode não se lembrar ou nem saber quem foi Osamu Tezuka. Grande pecado. Aquilo que hoje conhecemos como mangá e animê não existiria, se não fosse o maior dos criadores japoneses de quadrinhos e animação.
Osamu Tezuka é o "divisor de águas" da história do mangá e do animê. Nascido na cidade de Osaka em 1926 , filho de uma família de classe média, ele logo revelou uma forte tendência para criar histórias e desenhar. Suas grandes influências vinham das tiras cômicas que eram publicadas nos jornais e dos desenhos animados do pioneiro Walt Disney. Aos 13 anos, ele já desenhava quadrinhos cômicos para seus colegas de escola.
Mas a adolescência de Tezuka, ao invés de alegre e despreocupada, foi marcada pela 2a. Guerra Mundial.
Idealista, o jovem Tezuka resolveu entrar na Faculdade de Medicina - sua "forma pessoal" de tentar compensar a dor da morte de amigos e colegas nas batalhas da guerra, procurando curar e salvar em tempos de violência. Mas antes mesmo de se formar, Tezuka já estava publicando seus quadrinhos em jornais. Com o fim da guerra e a derrota japonesa, vieram tempos de grande pobreza e dificuldades. Nessa época, Tezuka resolve se tornar desenhista. Enfrentando a fome e a escassez de meios, como de tinta e papel, ele começa a criar histórias cheias de humanidade, fantasia e mensagens de otimismo.
Em 1946, ele cria seu primeiro "best-seller": Shin Takarajima (A Nova Ilha do Tesouro) - uma história em quadrinhos na forma de storyboard de desenho animado, misturando pela primeira vez elementos da linguagem cinematográfica aos quadrinhos, algo que se tornou a característica do mangá moderno.
Poucos anos depois, Tezuka começaria a publicar as séries que marcaram gerações de crianças e jovens japoneses: Jungle Taitei (Kimba, o Leão Branco) em 1950; Tetsuwan Atomu (Astro Boy) em 1952; Ribon No Kishi (A Princesa e o Cavaleiro) em 1953, definindo com personagens magros e olhos grandes e brilhantes o estilo hoje conhecido como shõjo mangá, Hi No Tori (O Fênix) em 1967 e Black Jack em 1973. Em 1963, Tezuka finalmente realizou seu sonho de produzir animação em série no Japão, com a estréia na TV da versão em animê de Tetsuwan Atomu, realizada por sua própria produtora, a Mushi Productions. Em 1964, Tezuka se tornou o primeiro produtor de animê a exportar uma série para o exterior, quando Tetsuwan Atomu (Astro Boy) passou a ser exibida nos Estados Unidos.
Pioneiro em tudo que hoje chamamos de mangá e animê e criador incansável, Tezuka mal parava para comer para não desperdiçar tempo de trabalho. TEZUKA esteve no Brasil em setembro de 1984, abrindo uma exposição organizada pela ABRADEMI no MASP e chegou a dar uma aula de mangá especialmente para os associados da Abrademi. Trazido pela Fundação Japão, Tezuka orientou os diretores da ABRADEMI quanto a direção que a entidade deveria seguir, o que foi feito à risca. Analisando trabalhos de profissionais e amadores, o "Deus" do mangá mostrou caminhos para melhorá-los, e apesar da sua vasta experiência e conhecimento de mangá e animê, jamais falou mal de qualquer trabalho. Tezuka encantou-se com um personagem típicamente nosso - o rústico cangaceiro.
Entretanto, seus péssimos hábitos alimentares o levaram a adoecer pouco tempo depois, quando desenvolveu um câncer no estômago. Mesmo debilitado e hospitalizado, Tezuka continuou desenhando, até falecer em fevereiro de 1989. Milhares de pessoas compareceram ao seu funeral em Tokyo e o Japão inteiro chorou sua perda. Premiado e reconhecido internacionalmente, até hoje os japoneses e fãs de mangá e animê no mundo inteiro se referem a ele com o título de "Mangá no Kamisamá" (o Deus do Mangá).
Antes de Tezuka, os personagens de mangá não tinham olhos grandes e o animê mal existia. Depois dele, a história cultural do Japão mudou para sempre. Hoje, a obra de Tezuka permanece viva através de um museu e de sua produtora, dirigida por seu filho.
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