O ENCANTO ACONTECE
Carmen Miranda. A Pequena Notável. The Brazilian Bombshell. Nome mágico. Mito. Hoje, apenas uma lembrança. Mas lembrança em tudo que nos cerca. Sua influência é sentida não só na música popular brasileira, como em outros ritmos do resto do mundo. A moda lançada por ela dos turbantes, dos sapatos de plataforma, das coloridas jóias de fantasia (os célebres balangandãs), coberta de plumas e paetê, mas de barriga de fora — tudo isso é hoje copiado pela juventude feminina e pelos gays e travestis, que sequer a conheceram, pois a maioria nem era nascida quando Carmen morreu, em 5 de agosto de 1955. Ainda recentemente, a festejada cantora de rock, Madonna, confessou que suas roupas exóticas foram inspiradas em Carmen Miranda. Quem foi, afinal, essa artista tão diferente, tão revolucionária para a sua época e até para a atual? Na verdade, nem era brasileira de nascimento. Como Carlos Gardel que, embora francês, tornou-se o rei do tango argentino, a nossa maior sambista nasceu em Portugal, na aldeia de Marco de Canavezes, perto do Porto, no dia 9 de fevereiro de 1909. Vinda para o Brasil ainda bebê (um ano de idade), Maria do Carmo Miranda da Cunha (seu verdadeiro nome) foi aluna de um colégio de freiras em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, mas não completou sequer o curso ginasial porque, por necessidade financeira da família (o pai, barbeiro; a mãe, servindo refeições em uma pensão), a menina precisou começar a trabalhar muito cedo, primeiro vendendo gravatas, depois, como balconista de uma loja de chapéus, onde aprendeu a bolar seus futuros adornos da cabeça. Já, então, fora rebatizada como Carmen por um tio que a achava tão exuberante como a heroína da ópera de Bizet e não se conformava com o pacato nome Maria do Carmo. Descoberta pelo compositor e violonista baiano ("sempre os baianos na minha carreira, terminando com o Caimmy!"), Josué de Barros, Carmen Miranda gravou três discos, sem grande repercussão, até atingir o sucesso total com a música de Joubert de Carvalho, Pra Você Gostar de Mim, que passou a ser conhecida como Taí. Lançado em janeiro de 1930, esse disco bateu todos os recordes da época, vendendo 35.000 exemplares em um mês (ver foto). Depois disso, nunca mais Carmen Miranda deixou de brilhar. Fazia sucesso não só no Brasil — com gravações e shows ao vivo — como na Argentina e Uruguai, tornando-se a estrelíssima do "show business" sul-americano nos moldes internacionais impostos pelos americanos do norte, em Hollywood e na Broadway. Era inevitável, portanto, que viesse a conquistar também aquele tipo de público tão exigente. Quando os artistas hollywoodianos Tyrone Power e Sonja Henie a viram se exibindo no Cassino da Urca, já com a primeira fantasia de baiana idealizada por ela própria, ficaram tão encantados que a recomendaram ao empresário Lee Schubert, que não hesitou em contratá-la para ser uma das principais intérpretes da revista musical Streets of Paris, montada no Broadhurst Theatre, em plena Broadway, também com a dupla cômica Abbott & Costello e o cantor francês Jean Sablon. A figura — já carismática — de Carmen Miranda tomou de assalto o público nova-iorquino, que nunca havia visto algo igual: uma exuberante criatura, exoticamente vestida, "cantando" com as mãos, com os olhos, com os pés e com os quadris, pois ninguém entendia suas palavras em português (ela ainda não falava inglês) e, já naquela época, foi considerada "a rainha da comunicação internacional". As lojas da luxuosa Quinta Avenida substituíram as criações de Dior e Chanel pelas fantasias de baiana de Carmen, seus turbantes, sapatos e balangandãs, com bons "royalties" para a cantora brasileira, já, então, carinhosamente apelidada pela imprensa nova-iorquina de "The Brazilian Bombshell". Ao contrário de diversas traduções, "bombshell" não quer dizer "bomba" em português — na gíria americana, "bombshell" significa uma "explosão", mas no sentido de uma grande surpresa — então, a tradução certa seria "A Grande Surpresa Brasileira" ou "A Explosão Brasileira". No Brasil, anos antes, recebera outro apelido, A Pequena Notável, que lhe fora dado pelo locutor César Ladeira, da extinta Mayrink Veiga, e que pegou de tal maneira, que ela passou a ser assim apresentada nos seus shows.
Carmen Miranda. A Pequena Notável. The Brazilian Bombshell. Nome mágico. Mito. Hoje, apenas uma lembrança. Mas lembrança em tudo que nos cerca. Sua influência é sentida não só na música popular brasileira, como em outros ritmos do resto do mundo. A moda lançada por ela dos turbantes, dos sapatos de plataforma, das coloridas jóias de fantasia (os célebres balangandãs), coberta de plumas e paetê, mas de barriga de fora — tudo isso é hoje copiado pela juventude feminina e pelos gays e travestis, que sequer a conheceram, pois a maioria nem era nascida quando Carmen morreu, em 5 de agosto de 1955. Ainda recentemente, a festejada cantora de rock, Madonna, confessou que suas roupas exóticas foram inspiradas em Carmen Miranda. Quem foi, afinal, essa artista tão diferente, tão revolucionária para a sua época e até para a atual? Na verdade, nem era brasileira de nascimento. Como Carlos Gardel que, embora francês, tornou-se o rei do tango argentino, a nossa maior sambista nasceu em Portugal, na aldeia de Marco de Canavezes, perto do Porto, no dia 9 de fevereiro de 1909. Vinda para o Brasil ainda bebê (um ano de idade), Maria do Carmo Miranda da Cunha (seu verdadeiro nome) foi aluna de um colégio de freiras em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, mas não completou sequer o curso ginasial porque, por necessidade financeira da família (o pai, barbeiro; a mãe, servindo refeições em uma pensão), a menina precisou começar a trabalhar muito cedo, primeiro vendendo gravatas, depois, como balconista de uma loja de chapéus, onde aprendeu a bolar seus futuros adornos da cabeça. Já, então, fora rebatizada como Carmen por um tio que a achava tão exuberante como a heroína da ópera de Bizet e não se conformava com o pacato nome Maria do Carmo. Descoberta pelo compositor e violonista baiano ("sempre os baianos na minha carreira, terminando com o Caimmy!"), Josué de Barros, Carmen Miranda gravou três discos, sem grande repercussão, até atingir o sucesso total com a música de Joubert de Carvalho, Pra Você Gostar de Mim, que passou a ser conhecida como Taí. Lançado em janeiro de 1930, esse disco bateu todos os recordes da época, vendendo 35.000 exemplares em um mês (ver foto). Depois disso, nunca mais Carmen Miranda deixou de brilhar. Fazia sucesso não só no Brasil — com gravações e shows ao vivo — como na Argentina e Uruguai, tornando-se a estrelíssima do "show business" sul-americano nos moldes internacionais impostos pelos americanos do norte, em Hollywood e na Broadway. Era inevitável, portanto, que viesse a conquistar também aquele tipo de público tão exigente. Quando os artistas hollywoodianos Tyrone Power e Sonja Henie a viram se exibindo no Cassino da Urca, já com a primeira fantasia de baiana idealizada por ela própria, ficaram tão encantados que a recomendaram ao empresário Lee Schubert, que não hesitou em contratá-la para ser uma das principais intérpretes da revista musical Streets of Paris, montada no Broadhurst Theatre, em plena Broadway, também com a dupla cômica Abbott & Costello e o cantor francês Jean Sablon. A figura — já carismática — de Carmen Miranda tomou de assalto o público nova-iorquino, que nunca havia visto algo igual: uma exuberante criatura, exoticamente vestida, "cantando" com as mãos, com os olhos, com os pés e com os quadris, pois ninguém entendia suas palavras em português (ela ainda não falava inglês) e, já naquela época, foi considerada "a rainha da comunicação internacional". As lojas da luxuosa Quinta Avenida substituíram as criações de Dior e Chanel pelas fantasias de baiana de Carmen, seus turbantes, sapatos e balangandãs, com bons "royalties" para a cantora brasileira, já, então, carinhosamente apelidada pela imprensa nova-iorquina de "The Brazilian Bombshell". Ao contrário de diversas traduções, "bombshell" não quer dizer "bomba" em português — na gíria americana, "bombshell" significa uma "explosão", mas no sentido de uma grande surpresa — então, a tradução certa seria "A Grande Surpresa Brasileira" ou "A Explosão Brasileira". No Brasil, anos antes, recebera outro apelido, A Pequena Notável, que lhe fora dado pelo locutor César Ladeira, da extinta Mayrink Veiga, e que pegou de tal maneira, que ela passou a ser assim apresentada nos seus shows.
DE "PEQUENA NOTÁVEL" A "BRAZILIAN BOMBSHELL"
Algumas pessoas mal informadas (ou simplesmente invejosas) disseram e dizem até hoje que Carmen Miranda foi para os Estados Unidos porque existia uma política de Boa Vizinhança entre o Presidente Roosevelt e Getúlio Vargas, inclusive que a pequena notável fora patrocinada por este último para representar o Brasil na Feira Mundial de Nova lorque porque era sua amante. Não é verdade. Carmen foi de navio (não havia passagens de avião por ser época de tensão pré-guerra), com passagem paga pelo empresário Lee Schubert. Mas, como o empresário americano não concordou em levar seus acompanhantes (o Bando da Lua) e a brasileiríssima Carmen não aceitava músicos estrangeiros para tocarem "o seu samba", ela então, recorreu ao Ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, e pediu-lhe ajuda para os rapazes. Como sempre acontece no Governo com relação aos artistas, o Itamarati, na base da economia, concordou em pagar apenas as passagens de três membros do Bando da Lua, com a condição de Carmen apresentar-se com eles no Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova Iorque. Não querendo fazer nada "pela metade", Carmen pagou, do seu bolso, as outras três passagens, e embarcou com o grupo completo. Então, não foi a política de Boa Vizinhança a responsável pelo sucesso dela nos States e, muito menos, o desejo de Roosevelt de querer agradar o Brasil na época, como alegam os falsos críticos. Afinal, a pergunta é: desde quando, até os dias de hoje, os Estados Unidos fizeram questão de badalar um país subdesenvolvido como o Brasil? Não é sempre, justamente, o contrário, porque quem precisa de dólares e empréstimos somos nós?... Era inevitável que a Brazilian Bombshell terminasse como estrela em Hollywood, justamente na época gloriosa dos filmes musicais. Como não pudesse abandonar os espetáculos diários de Ruas de Paris na Broadway, a 2Oth. Century-Fox abriu uma exceção para ela (um precedente na história de Hollywood): enviou a Nova Iorque uma equipe de técnicos com o diretor Irving Cummings para filmar alguns números seus especialmente para o cinema, que foram encaixados no filme Down Argentine Way (Serenata Tropical), com os então popularíssimos Betty Grabie e Don Ameche. O filme bateu recordes de bilheteria, noventa por cento por causa da presença de Carmen que, então, ficou famosa no mundo inteiro. Da Pequena Notável, cantora de rádio do Brasil, restou apenas a saudade. — No seu camarim, no Broadhurst Theatre, ainda atordoada com o sucesso internacional, a Brazilian Bombshell recebia cumprimentos de celebridades do mundo da tela que tanto admirara nos filmes e que nunca sonhara conhecer pessoalmente, muito menos, tê-los como seus fãs: Robert Taylor, Barbara Stanwick, Judy Garland, Errol Flynn, Dorothy Lamour, Mickey Rooney (ver foto) , David Niven, Lana Turner, Norma Shearer e até a exclusiva Greta Garbo, que "saiu da toca" para ver o que era a Explosão Brasileira. Certa vez, comentando este fato com Carmen, comparei-o ao meu próprio caso: vir a conhecê-la pessoalmente e, ainda, me tornar sua melhor amiga — ela, que fora meu ídolo de infância. Carmen exibiu aqueles dentes perfeitos no clássico e brejeiro sorriso e me deu um grande beijo, como se eu estivesse lhe fazendo um favor em admirá-la. Era assim modesta, um ser humano maravilhoso, embora tivesse noção do seu valor e se apresentasse com o pique de uma verdadeira estrela.
UMA DECEPÇÃO COM O BRASIL
Portuguesa de nascimento, brasileira de coração, Carmen Miranda jamais se naturalizou americana, apesar dos dezesseis anos vividos como imigrante nos Estados Unidos e casada com um cidadão de lá. Mas, nem por isso, foi bem compreendida pelos brasileiros. Após o sucesso na Broadway com Streets of Paris e, em Hollywood (e resto do Mundo) com o filme Serenata Tropical, após ter sido convidada de honra na Casa Branca, em Washington, para cantar no sétimo aniversário de Franklin Roosevelt como Presidente dos Estados Unidos (como Getúlio, ele também era seu fã), Carmen voltou ao Brasil para prestar contas de legítima Embaixatriz do Samba nos States. Desceu do navio SS Argentina no cais da Praça Mauá no Rio de Janeiro, vestida com um tailleur em camurça verde-amarela e foi recebida triunfalmente pelo povo, desfilando em carro aberto pela Avenida Rio Branco, coberta de flores, serpentinas e confetes. Mas a suposta "alta sociedade" carioca esnobou-a: quando Carmen, a Pequena Notável, a Brazilian Bombshell, apresentou-se novamente no Cassino da Urca — agora, já estrela internacional sofisticadíssima, no esplendor das novas fantasias de baiana estilizadas — a "carioca society" aplaudiu-a friamente, de uma forma que, em outro ambiente, teria sido o equivalente a uma vaia. Motivo: no seu entusiasmo em mostrar o que havia aprendido "lá fora", a ingênua Carmen - que nunca foi apelativa - cantou algumas músicas em inglês, como havia feito pouco antes nos Estados Unidos, sob enormes aplausos. Foi o suficiente para que a acusassem de ter-se americanizado. No dia seguinte, triste e amargurada com a injustiça daquele povo que tanto amava, a pequena notável encomendou aos compositores Vicente Paiva e Luiz Peixoto o samba Disseram Que Voltei Americanizada, que resultou em um verdadeiro auto-retrato da cantora. Essa mágoa com o Brasil perseguiu-a durante anos e uma reportagem publicada pelo jornalista-compositor David Nasser (que desfrutou da hospitalidade dela na mansão de 616 North Bedford Drive, em Beverly Hills), intitulada "Carmen, Volte Para os Seus Bugres", cimentou a melancolia e o complexo de que os brasileiros não gostavam mais dela. Esquecia-se (e não adiantava falarmos!) de que era apenas uma minoria, mas, sensível como era, queria ser amada por todos. Só voltaria a perder esse complexo ao voltar ao Brasil, quase no fim da sua curta vida, em 1954 ("empurrada" pela dedicada irmã, Aurora), quando os brasileiros se redimiram de todas as injustiças e lhe prestaram as homenagens que merecia.
Algumas pessoas mal informadas (ou simplesmente invejosas) disseram e dizem até hoje que Carmen Miranda foi para os Estados Unidos porque existia uma política de Boa Vizinhança entre o Presidente Roosevelt e Getúlio Vargas, inclusive que a pequena notável fora patrocinada por este último para representar o Brasil na Feira Mundial de Nova lorque porque era sua amante. Não é verdade. Carmen foi de navio (não havia passagens de avião por ser época de tensão pré-guerra), com passagem paga pelo empresário Lee Schubert. Mas, como o empresário americano não concordou em levar seus acompanhantes (o Bando da Lua) e a brasileiríssima Carmen não aceitava músicos estrangeiros para tocarem "o seu samba", ela então, recorreu ao Ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, e pediu-lhe ajuda para os rapazes. Como sempre acontece no Governo com relação aos artistas, o Itamarati, na base da economia, concordou em pagar apenas as passagens de três membros do Bando da Lua, com a condição de Carmen apresentar-se com eles no Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova Iorque. Não querendo fazer nada "pela metade", Carmen pagou, do seu bolso, as outras três passagens, e embarcou com o grupo completo. Então, não foi a política de Boa Vizinhança a responsável pelo sucesso dela nos States e, muito menos, o desejo de Roosevelt de querer agradar o Brasil na época, como alegam os falsos críticos. Afinal, a pergunta é: desde quando, até os dias de hoje, os Estados Unidos fizeram questão de badalar um país subdesenvolvido como o Brasil? Não é sempre, justamente, o contrário, porque quem precisa de dólares e empréstimos somos nós?... Era inevitável que a Brazilian Bombshell terminasse como estrela em Hollywood, justamente na época gloriosa dos filmes musicais. Como não pudesse abandonar os espetáculos diários de Ruas de Paris na Broadway, a 2Oth. Century-Fox abriu uma exceção para ela (um precedente na história de Hollywood): enviou a Nova Iorque uma equipe de técnicos com o diretor Irving Cummings para filmar alguns números seus especialmente para o cinema, que foram encaixados no filme Down Argentine Way (Serenata Tropical), com os então popularíssimos Betty Grabie e Don Ameche. O filme bateu recordes de bilheteria, noventa por cento por causa da presença de Carmen que, então, ficou famosa no mundo inteiro. Da Pequena Notável, cantora de rádio do Brasil, restou apenas a saudade. — No seu camarim, no Broadhurst Theatre, ainda atordoada com o sucesso internacional, a Brazilian Bombshell recebia cumprimentos de celebridades do mundo da tela que tanto admirara nos filmes e que nunca sonhara conhecer pessoalmente, muito menos, tê-los como seus fãs: Robert Taylor, Barbara Stanwick, Judy Garland, Errol Flynn, Dorothy Lamour, Mickey Rooney (ver foto) , David Niven, Lana Turner, Norma Shearer e até a exclusiva Greta Garbo, que "saiu da toca" para ver o que era a Explosão Brasileira. Certa vez, comentando este fato com Carmen, comparei-o ao meu próprio caso: vir a conhecê-la pessoalmente e, ainda, me tornar sua melhor amiga — ela, que fora meu ídolo de infância. Carmen exibiu aqueles dentes perfeitos no clássico e brejeiro sorriso e me deu um grande beijo, como se eu estivesse lhe fazendo um favor em admirá-la. Era assim modesta, um ser humano maravilhoso, embora tivesse noção do seu valor e se apresentasse com o pique de uma verdadeira estrela.
UMA DECEPÇÃO COM O BRASIL
Portuguesa de nascimento, brasileira de coração, Carmen Miranda jamais se naturalizou americana, apesar dos dezesseis anos vividos como imigrante nos Estados Unidos e casada com um cidadão de lá. Mas, nem por isso, foi bem compreendida pelos brasileiros. Após o sucesso na Broadway com Streets of Paris e, em Hollywood (e resto do Mundo) com o filme Serenata Tropical, após ter sido convidada de honra na Casa Branca, em Washington, para cantar no sétimo aniversário de Franklin Roosevelt como Presidente dos Estados Unidos (como Getúlio, ele também era seu fã), Carmen voltou ao Brasil para prestar contas de legítima Embaixatriz do Samba nos States. Desceu do navio SS Argentina no cais da Praça Mauá no Rio de Janeiro, vestida com um tailleur em camurça verde-amarela e foi recebida triunfalmente pelo povo, desfilando em carro aberto pela Avenida Rio Branco, coberta de flores, serpentinas e confetes. Mas a suposta "alta sociedade" carioca esnobou-a: quando Carmen, a Pequena Notável, a Brazilian Bombshell, apresentou-se novamente no Cassino da Urca — agora, já estrela internacional sofisticadíssima, no esplendor das novas fantasias de baiana estilizadas — a "carioca society" aplaudiu-a friamente, de uma forma que, em outro ambiente, teria sido o equivalente a uma vaia. Motivo: no seu entusiasmo em mostrar o que havia aprendido "lá fora", a ingênua Carmen - que nunca foi apelativa - cantou algumas músicas em inglês, como havia feito pouco antes nos Estados Unidos, sob enormes aplausos. Foi o suficiente para que a acusassem de ter-se americanizado. No dia seguinte, triste e amargurada com a injustiça daquele povo que tanto amava, a pequena notável encomendou aos compositores Vicente Paiva e Luiz Peixoto o samba Disseram Que Voltei Americanizada, que resultou em um verdadeiro auto-retrato da cantora. Essa mágoa com o Brasil perseguiu-a durante anos e uma reportagem publicada pelo jornalista-compositor David Nasser (que desfrutou da hospitalidade dela na mansão de 616 North Bedford Drive, em Beverly Hills), intitulada "Carmen, Volte Para os Seus Bugres", cimentou a melancolia e o complexo de que os brasileiros não gostavam mais dela. Esquecia-se (e não adiantava falarmos!) de que era apenas uma minoria, mas, sensível como era, queria ser amada por todos. Só voltaria a perder esse complexo ao voltar ao Brasil, quase no fim da sua curta vida, em 1954 ("empurrada" pela dedicada irmã, Aurora), quando os brasileiros se redimiram de todas as injustiças e lhe prestaram as homenagens que merecia.
UMA "ESTRELA" BRASILEIRA EM HOLLYWOOD: A ÚNICA!
Já contratada pela 2Oth Century-Fox pelo prazo de sete anos, Carmen vai a Hollywood para filmar Uma Noite no Rio com grandes nomes da época, como Alice Faye e Don Ameche. Desta vez, não era apenas cantora, mas uma verdadeira atriz, com cenas de amor duplas com Ameche, que fazia o papel de um cantor americano e seu sósia, um barão brasiíeiro. Então, repetiu-se o fenômeno: ela, que jamais havia tido aulas de canto ou dança e que se tornara mestre (ou maestrina) nos dois setores, acabou se saindo muito bem como atriz, embora nunca tivesse recebido lições de arte dramática. Com este sucesso "in loco", na Meca do Cinema, Carmen seguiu os moldes previstos para as grandes estrelas hollywoodianas — ela, que foi a primeira e a única que o Brasil lá teria — como prova o fato de ter pés e mãos gravados no histórico saguão dos imortais do "Chinese Theatre" e uma estrela de ouro com seu nome nas calçadas de Hollywood Boulevard (ver foto). Seguindo a tradição, a Brazilian Bombshell igualou-se a Bette Davis, Lana Turner, Ava Gardner e outros mitos, comprando uma casa de veraneio em Palm Springs e instalando-se em uma mansão em Beverly Hills — 616 North Bedford Drive, a rua das palmeiras que Mel Brooks mostrou no seu Silent Movie. Só não se igualou às grandes estrelas americanas em casamentos variados, divórcios e escândalos. A não ser por um incidente, que deu o que falar e foi mal interpretado.
UM ESCÂNDALO INVOLUNTÁRIO
Durante a filmagem de Aconteceu em Havana em 1941 — seu segundo trabalho nos estúdios da Fox, em Hollywood — aconteceu algo que, de início, foi motivo de preocupação e, depois, de boas risadas. Devido às saias de baiana supercolantes no corpo (como o cetim e brocado), geralmente Carmen não usava calcinhas para não ficar marcada no traseiro com a célebre expressão da época "V-8". E, não contando com uma cena de dança com seu partner César Romero — previamente ensaiada, mas exagerada por ele no entusiasmo da música na filmagem — Carmen vê-se erguida no ar, enquanto as câmeras focalizam-na na plenitude da sua nudez púbica. É claro que a cena foi cortada do filme, mas um inescrupuloso fotógrafo do estúdio roubou o negativo, reproduziu-o e vendeu milhares de cópias por todos os Estados Unidos. Anos depois, várias pessoas — inclusive o antigo chefão da Fox, Darryl F. Zanuck, já "gagá" — escreveram livros dizendo que o incidente "escandaloso" havia acontecido durante a filmagem de If I’m Lucky (Se Eu Fosse Feliz) em 1946 e que o célebre Senador MacCarthy havia colocado Carmen na sua lista negra, de "caça às bruxas" impedindo a Fox de renovar seu contrato. O que não é verdade, se ocorreu em 1941 e a foto é com César Romero, que não fazia parte do elenco de Se Eu Fosse Feliz. E assim como Marilyn Monroe não foi afetada pelo calendário nu, também a nossa Carmen continuou seu contrato com a 2Oth Century-Fox, filmando ainda: — Minha Secretária Brasileira (Springtime in the Rockies) em 1942 , Entre a Loura e a Morena (The Gang’s All Here) em 1943, Quatro Moças Num Jipe (Four in a Jeep) em 1944, Serenata Boêmia (Greenwich Village) em 1944 , Alegria Rapazes (Something for the Boys) em 1944, Sonhos de Estrela (Doll Face) em 1945 e Se Eu Fosse Feliz (If I’m Lucky) em 1946. Em seguida, como estava acontecendo à maioria dos famosos astros — que não mais queriam se submeter às exigências contratuais dos grandes estúdios — Carmen resolve tornar-se "free-lancer", justamente pelo seu amor ao Brasil, para não mais ser obrigada a interpretar as Conchitas e Doritas cubanas ou mexicanas, que ela detestava. Só que não tinha muito senso de "marketing". Seu primeiro filme independente — com parte financiada por ela, Copacabana, com Steve Cochran, Grouxo Marx e Gloria Jean — não fez tanto sucesso como os outros da Fox, embora interpretasse a brasileira que queria. A única vantagem foi que encontrou o marido que desejava.
Já contratada pela 2Oth Century-Fox pelo prazo de sete anos, Carmen vai a Hollywood para filmar Uma Noite no Rio com grandes nomes da época, como Alice Faye e Don Ameche. Desta vez, não era apenas cantora, mas uma verdadeira atriz, com cenas de amor duplas com Ameche, que fazia o papel de um cantor americano e seu sósia, um barão brasiíeiro. Então, repetiu-se o fenômeno: ela, que jamais havia tido aulas de canto ou dança e que se tornara mestre (ou maestrina) nos dois setores, acabou se saindo muito bem como atriz, embora nunca tivesse recebido lições de arte dramática. Com este sucesso "in loco", na Meca do Cinema, Carmen seguiu os moldes previstos para as grandes estrelas hollywoodianas — ela, que foi a primeira e a única que o Brasil lá teria — como prova o fato de ter pés e mãos gravados no histórico saguão dos imortais do "Chinese Theatre" e uma estrela de ouro com seu nome nas calçadas de Hollywood Boulevard (ver foto). Seguindo a tradição, a Brazilian Bombshell igualou-se a Bette Davis, Lana Turner, Ava Gardner e outros mitos, comprando uma casa de veraneio em Palm Springs e instalando-se em uma mansão em Beverly Hills — 616 North Bedford Drive, a rua das palmeiras que Mel Brooks mostrou no seu Silent Movie. Só não se igualou às grandes estrelas americanas em casamentos variados, divórcios e escândalos. A não ser por um incidente, que deu o que falar e foi mal interpretado.
UM ESCÂNDALO INVOLUNTÁRIO
Durante a filmagem de Aconteceu em Havana em 1941 — seu segundo trabalho nos estúdios da Fox, em Hollywood — aconteceu algo que, de início, foi motivo de preocupação e, depois, de boas risadas. Devido às saias de baiana supercolantes no corpo (como o cetim e brocado), geralmente Carmen não usava calcinhas para não ficar marcada no traseiro com a célebre expressão da época "V-8". E, não contando com uma cena de dança com seu partner César Romero — previamente ensaiada, mas exagerada por ele no entusiasmo da música na filmagem — Carmen vê-se erguida no ar, enquanto as câmeras focalizam-na na plenitude da sua nudez púbica. É claro que a cena foi cortada do filme, mas um inescrupuloso fotógrafo do estúdio roubou o negativo, reproduziu-o e vendeu milhares de cópias por todos os Estados Unidos. Anos depois, várias pessoas — inclusive o antigo chefão da Fox, Darryl F. Zanuck, já "gagá" — escreveram livros dizendo que o incidente "escandaloso" havia acontecido durante a filmagem de If I’m Lucky (Se Eu Fosse Feliz) em 1946 e que o célebre Senador MacCarthy havia colocado Carmen na sua lista negra, de "caça às bruxas" impedindo a Fox de renovar seu contrato. O que não é verdade, se ocorreu em 1941 e a foto é com César Romero, que não fazia parte do elenco de Se Eu Fosse Feliz. E assim como Marilyn Monroe não foi afetada pelo calendário nu, também a nossa Carmen continuou seu contrato com a 2Oth Century-Fox, filmando ainda: — Minha Secretária Brasileira (Springtime in the Rockies) em 1942 , Entre a Loura e a Morena (The Gang’s All Here) em 1943, Quatro Moças Num Jipe (Four in a Jeep) em 1944, Serenata Boêmia (Greenwich Village) em 1944 , Alegria Rapazes (Something for the Boys) em 1944, Sonhos de Estrela (Doll Face) em 1945 e Se Eu Fosse Feliz (If I’m Lucky) em 1946. Em seguida, como estava acontecendo à maioria dos famosos astros — que não mais queriam se submeter às exigências contratuais dos grandes estúdios — Carmen resolve tornar-se "free-lancer", justamente pelo seu amor ao Brasil, para não mais ser obrigada a interpretar as Conchitas e Doritas cubanas ou mexicanas, que ela detestava. Só que não tinha muito senso de "marketing". Seu primeiro filme independente — com parte financiada por ela, Copacabana, com Steve Cochran, Grouxo Marx e Gloria Jean — não fez tanto sucesso como os outros da Fox, embora interpretasse a brasileira que queria. A única vantagem foi que encontrou o marido que desejava.
UM HOMEM DIFERENTE NA SUA VIDA
Apesar de toda a sua exuberância e aparência espalhafatosa, Carmen Miranda era muito discreta com relação à sua vida sentimental. Quando ainda cantora de rádio no Brasil, seu mais fanático admirador era o Presidente Getúlio Vargas, que não perdia seus shoivs no Cassino da Urca ou no Teatro João Caetano. Diziam que Carmen teve um "caso" com Getúlio, o que ela nunca confirmou, nem desmentiu. Aos seus amigos íntimos de Hollywood (principalmente a esta colunista), contava que havia deixado no Brasil uma grande, verdadeira e única paixão: um médico de família tradicional, cujo primeiro nome era Carlos Alberto e que não se casou com ela por imposição dos pais, que a consideravam "uma puta, cantora de rádio vulgar". Nos Estados Unidos, gostava muito (não se sabe se por amor mesmo ou por apoio como líder do Bando da Lua e seu arranjador musical), de Aloysio de Oliveira (mais tarde também responsável pelos Miranda’s Boys, quando ela atingiu o status de "estrela"), mas, também, não chegou a desposá-lo. Dos galãs do cinema americano, andou de amores com o mexicano Arturo de Córdova e com o charmoso John Payne. Finalmente, casou-se, em 17 de março de 1947, com David Sebastian, um judeu de prematuros cabelos brancos, cuja família tinha indústria de malas em São Francisco e que ela conhecera como co-produtor do seu filme independente, Copacabana. Uma ocasião, Carmen me disse: "Casei-me com Dave porque ele me adorava tanto, que achei que poderíamos ter um filho maravilhoso. Os outros homens da minha vida nunca me haviam dado tanto valor como ele..." Por isso, casando relativamente tarde (38 anos), ela tratou logo de ficar grávida. No entanto, mais uma vez, a nossa "sexy" Carmen não teve sorte nos seus anseios pessoais: perde o filho que esperava para junho de 1949 por causa de um exaustivo show para as classes armadas norte-americanas — aliás, uma homenagem dos soldados aos artistas que mais os divertiram durante a II Guerra Mundial: Marlene Dietrich, Bob Hope, Bing Crosby, Dinah Shore e Martha Raye, que receberam medalhas do Governo dos Estados Unidos. E Carmen Miranda não deixou herdeiros. A não ser a sobrinha e afilhada (filha de Cecília Miranda de Carvalho), que leva seu nome e foi excelente pianista, mas que, por motivos pessoais, não quis seguir a carreira artística, preferindo ser dona-de-casa e mãe de filhos.
Apesar de toda a sua exuberância e aparência espalhafatosa, Carmen Miranda era muito discreta com relação à sua vida sentimental. Quando ainda cantora de rádio no Brasil, seu mais fanático admirador era o Presidente Getúlio Vargas, que não perdia seus shoivs no Cassino da Urca ou no Teatro João Caetano. Diziam que Carmen teve um "caso" com Getúlio, o que ela nunca confirmou, nem desmentiu. Aos seus amigos íntimos de Hollywood (principalmente a esta colunista), contava que havia deixado no Brasil uma grande, verdadeira e única paixão: um médico de família tradicional, cujo primeiro nome era Carlos Alberto e que não se casou com ela por imposição dos pais, que a consideravam "uma puta, cantora de rádio vulgar". Nos Estados Unidos, gostava muito (não se sabe se por amor mesmo ou por apoio como líder do Bando da Lua e seu arranjador musical), de Aloysio de Oliveira (mais tarde também responsável pelos Miranda’s Boys, quando ela atingiu o status de "estrela"), mas, também, não chegou a desposá-lo. Dos galãs do cinema americano, andou de amores com o mexicano Arturo de Córdova e com o charmoso John Payne. Finalmente, casou-se, em 17 de março de 1947, com David Sebastian, um judeu de prematuros cabelos brancos, cuja família tinha indústria de malas em São Francisco e que ela conhecera como co-produtor do seu filme independente, Copacabana. Uma ocasião, Carmen me disse: "Casei-me com Dave porque ele me adorava tanto, que achei que poderíamos ter um filho maravilhoso. Os outros homens da minha vida nunca me haviam dado tanto valor como ele..." Por isso, casando relativamente tarde (38 anos), ela tratou logo de ficar grávida. No entanto, mais uma vez, a nossa "sexy" Carmen não teve sorte nos seus anseios pessoais: perde o filho que esperava para junho de 1949 por causa de um exaustivo show para as classes armadas norte-americanas — aliás, uma homenagem dos soldados aos artistas que mais os divertiram durante a II Guerra Mundial: Marlene Dietrich, Bob Hope, Bing Crosby, Dinah Shore e Martha Raye, que receberam medalhas do Governo dos Estados Unidos. E Carmen Miranda não deixou herdeiros. A não ser a sobrinha e afilhada (filha de Cecília Miranda de Carvalho), que leva seu nome e foi excelente pianista, mas que, por motivos pessoais, não quis seguir a carreira artística, preferindo ser dona-de-casa e mãe de filhos.
"TOO MUCH, TOO SOON"
Após sua última aparição no cinema, no filme Morrendo de Medo (Scared Stiff) — com a ainda dupla Dean Martin-Jerry Lewis — Carmen passou a excursionar, a exemplo da sua amiga Marlene Dietrich e tantas outras artistas-cantoras. Era, realmente, um grande nome no mundo inteiro. Já, em 1948, havia lotado, durante oito semanas, o célebre teatro Palladium, de Londres. Lá voltou em 1953, batendo seu próprio recorde e excursionou por toda a Europa, com sucesso total. Livre dos contratos cinematográficos, podia, então aceitar as vantajosas propostas dos cassinos de Las Vegas, Bufallo, Reno e Atlantic City e apresentar-se em Cuba, quando Havana ainda era o paraíso do jogo no tempo do ditador Batista. Mas essas tournées já estavam afetando a saúde da Brazilian Bombshell. As mudanças de clima, de ambiente, trocando o dia pela noite (em Hollywood, trocava a noite pelo dia quando se levantava para filmar às 5 horas da manhã) foram demais para ela. Tinha razão Diana Barrymore (filha do talentoso John) ao escrever seu livro Too Much, Too Soon (Muita Coisa, Cedo Demais). No seu afã de agradar a um público cada vez mais numeroso e exigente, Carmen sucumbiu ao sistema hollywoodiano: recorreu à artificialidade do álcool, dos soporíferos e das anfetaminas, se bem que, orgulhosamente, afirmasse que jamais fora viciada nas chamadas "drogas". Mas eram pílulas para dormir, pílulas para manter acordada e em forma para os shows até alta madrugada e uísque para tolerar a futilidade das festas e homenagens a que era .praticamente obrigada a comparecer — fora o fato de que aprendeu a gostar de ficar "alta" porque botava para fora as inibições de uma educação religiosa tradicional, que não combinava com o seu "status" de estrela de Hollywood e do mundo. Resultado de tudo isso: seus nervos ficaram em frangalhos. Internada em um sanatório de Palm Springs, chegou a fazer diversos tratamentos de choques elétricos — em moda, na ocasião e, hoje, condenados pela maioria dos psiquiatras. Foi, então, que sua dedicada irmã Aurora, que eia adorava e que não via há tantos anos — desde que cheguei a Hollywood e nos tornamos amigas — embarcou para Los Angeles e trouxe Carmen para o Brasil. Foi uma idéia genial. Logo ao pisar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (onde fui recebê-la, pois havia vindo ao Brasil para me casar), no dia 3 de dezembro de 1954, Carmen começou a perder o complexo de que os brasileiros não gostavam mais dela. Depois, no Rio, hospedada no anexo do Copacabana Palace, recuperando os nervos abalados, ela ficou até 4 de abril de 1955, em grandes noitadas com velhos e novos amigos, mas antes, passou semanas "confinada" na sua suíte, sob os cuidados de um médico maravilhoso que foi o Dr. Aloísio Sales, que se tornou seu "homem de confiança", como dizia. Jamais esquecerei uma tarde, em dezembro de 1954 (eu me casaria no dia 31), quando recebi um telefonema do Rio para a minha casa em São Paulo e Gabriel Richard (marido de Aurora) disse: "Carmen quer falar com você". Ela veio ao telefone e me explicou que, embora houvesse insistido, não poderia vir a São Paulo ser minha madrinha de casamento na Capela da Universidade Católica. Aquela voz tão maravilhosa estava emocionada: "Do jeito que estou, não posso aparecer em público e eu estragaria tudo pra você e pra mim. Estou um caco e, ademais, filhota, o médico disse que eu não agüentaria essa emoção. Promete que me desculpa? Mas serei madrinha do seu primeiro filho e você sabe a condição: se for homem, tem que se chamar Carlos Alberto... Combinado?" Voltei para Hollywood, já casada, antes dela, em janeiro de 1955. Continuei freqüentando a casa de Bedford Drive para fazer companhia ao solitário David Sebastian que, para suavizar a saudade de Carmen, continuou fazendo para nós os "picadinhos e feijoadas da Dona Maria", sempre falando pelo telefone com a mulher no Rio, principalmente chorando no dia 17 de março, oitavo aniversário do seu casamento. No Brasil, essa segunda volta foi a consagração total de Carmen perante o público, a imprensa e a própria alta-sociedade que a havia esnobado. Quando a recebemos de volta a Hollywood, era uma Carmen diferente, animada e recuperada da sua magoa com a pátria adotiva, cheia de álbuns de recortes sobre como a amavam.
Após sua última aparição no cinema, no filme Morrendo de Medo (Scared Stiff) — com a ainda dupla Dean Martin-Jerry Lewis — Carmen passou a excursionar, a exemplo da sua amiga Marlene Dietrich e tantas outras artistas-cantoras. Era, realmente, um grande nome no mundo inteiro. Já, em 1948, havia lotado, durante oito semanas, o célebre teatro Palladium, de Londres. Lá voltou em 1953, batendo seu próprio recorde e excursionou por toda a Europa, com sucesso total. Livre dos contratos cinematográficos, podia, então aceitar as vantajosas propostas dos cassinos de Las Vegas, Bufallo, Reno e Atlantic City e apresentar-se em Cuba, quando Havana ainda era o paraíso do jogo no tempo do ditador Batista. Mas essas tournées já estavam afetando a saúde da Brazilian Bombshell. As mudanças de clima, de ambiente, trocando o dia pela noite (em Hollywood, trocava a noite pelo dia quando se levantava para filmar às 5 horas da manhã) foram demais para ela. Tinha razão Diana Barrymore (filha do talentoso John) ao escrever seu livro Too Much, Too Soon (Muita Coisa, Cedo Demais). No seu afã de agradar a um público cada vez mais numeroso e exigente, Carmen sucumbiu ao sistema hollywoodiano: recorreu à artificialidade do álcool, dos soporíferos e das anfetaminas, se bem que, orgulhosamente, afirmasse que jamais fora viciada nas chamadas "drogas". Mas eram pílulas para dormir, pílulas para manter acordada e em forma para os shows até alta madrugada e uísque para tolerar a futilidade das festas e homenagens a que era .praticamente obrigada a comparecer — fora o fato de que aprendeu a gostar de ficar "alta" porque botava para fora as inibições de uma educação religiosa tradicional, que não combinava com o seu "status" de estrela de Hollywood e do mundo. Resultado de tudo isso: seus nervos ficaram em frangalhos. Internada em um sanatório de Palm Springs, chegou a fazer diversos tratamentos de choques elétricos — em moda, na ocasião e, hoje, condenados pela maioria dos psiquiatras. Foi, então, que sua dedicada irmã Aurora, que eia adorava e que não via há tantos anos — desde que cheguei a Hollywood e nos tornamos amigas — embarcou para Los Angeles e trouxe Carmen para o Brasil. Foi uma idéia genial. Logo ao pisar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (onde fui recebê-la, pois havia vindo ao Brasil para me casar), no dia 3 de dezembro de 1954, Carmen começou a perder o complexo de que os brasileiros não gostavam mais dela. Depois, no Rio, hospedada no anexo do Copacabana Palace, recuperando os nervos abalados, ela ficou até 4 de abril de 1955, em grandes noitadas com velhos e novos amigos, mas antes, passou semanas "confinada" na sua suíte, sob os cuidados de um médico maravilhoso que foi o Dr. Aloísio Sales, que se tornou seu "homem de confiança", como dizia. Jamais esquecerei uma tarde, em dezembro de 1954 (eu me casaria no dia 31), quando recebi um telefonema do Rio para a minha casa em São Paulo e Gabriel Richard (marido de Aurora) disse: "Carmen quer falar com você". Ela veio ao telefone e me explicou que, embora houvesse insistido, não poderia vir a São Paulo ser minha madrinha de casamento na Capela da Universidade Católica. Aquela voz tão maravilhosa estava emocionada: "Do jeito que estou, não posso aparecer em público e eu estragaria tudo pra você e pra mim. Estou um caco e, ademais, filhota, o médico disse que eu não agüentaria essa emoção. Promete que me desculpa? Mas serei madrinha do seu primeiro filho e você sabe a condição: se for homem, tem que se chamar Carlos Alberto... Combinado?" Voltei para Hollywood, já casada, antes dela, em janeiro de 1955. Continuei freqüentando a casa de Bedford Drive para fazer companhia ao solitário David Sebastian que, para suavizar a saudade de Carmen, continuou fazendo para nós os "picadinhos e feijoadas da Dona Maria", sempre falando pelo telefone com a mulher no Rio, principalmente chorando no dia 17 de março, oitavo aniversário do seu casamento. No Brasil, essa segunda volta foi a consagração total de Carmen perante o público, a imprensa e a própria alta-sociedade que a havia esnobado. Quando a recebemos de volta a Hollywood, era uma Carmen diferente, animada e recuperada da sua magoa com a pátria adotiva, cheia de álbuns de recortes sobre como a amavam.
VOLTOU PARA MORRER
Em Hollywood, a nossa pequena notável só viveu mais quatro meses. Mas quatro meses de intensa alegria, como testemunhei. Acompanhei-a a Las Vegas para a inauguração do Cassino New Frontier, onde ela ficou quatro semanas, prorrogação do contrato de duas, diante do estrondoso sucesso. Depois, embora tivesse quebrado o polegar em uma queda da escada da sua casa — mesmo engessada, embarcou para uma temporada na melhor casa noturna de Havana, em Cuba: a Tropicana. Este cassino obrigava os artistas a cantarem ao ar livre, sob as palmeiras tropicais. Foi mais um problema para Carmen que, devido à umidade local, apanhou uma terrível bronquite. De volta à Califórnia, porém, teve uma agradável surpresa: a CBS-TV convidou-a para ter seu próprio programa semanal de televisão, intitulado The Carmen Miranda Show, no qual teria como galã o velho amigo Dennis O'Keefe, que faria um marinheiro americano um tanto ingênuo, casado com a "explosão brasileira", que vivia "aprontando" coisas. Um gênero parecido com o delicioso I Love Lucy, de Lucille Ball. Mas, antes disso, Carmen concordou em gravar o Jimmy Durante Show, cujo roteiro adorara, escrito especialmente para ela, como "a Carmen Miranda do Brasil", não como as Conchitas e Doritas que fazia por exigência do público que aprendeu a amá-la assim, latinamente explosiva. Assim, na noite de 4 de agosto de 1955, das 19 às 22 e 30 horas, nos estúdios da Desilu, em Gower Street, nossa maior estrela apresentou-se, pela última yez, perante um grande auditório e os convidados especiais: seu marido Dave, sua mãe Dona Maria Emília, a Vice-Consulesa do Brasil em Los Angeles Rosa Maria Monteiro e eu mesma. E, sempre brasileiríssima, Carmen cantou o baião Delicado em português. Durante essa gravação, houve um momento em que ficou com falta de ar e quase desmaiou, apoiando-se em Jimmy Durante. Mas não deu importância ao incidente, achando que era devido aos fortíssimos refletores, embora conste — da nossa gravação em fita-cassete — sua queixa a Durante: "I’m out of breath!" (Estou com falta de ar!). Após o show, com ela ainda vestida com o tailleur vermelho favorito(e com o qual Dave insistiu que fosse enterrada), fomos para sua casa tomar o clássico "night-cap", o drinque do fim da noite, da comemoração de mais um bem sucedido dia de trabalho. Despedimo-nos dela por volta da 1 hora de 5 de agosto. O resto dos convidados ainda ficou mais um pouco. Dave foi dormir antes, no quartinho de costura, para não perturbar o ambiente festivo de Carmen porque ela tinha o seu ritual antes de se deitar. Lá pelas <2 horas, a pequena notável, Brazilian Bombshel, foi para o seu quarto de vestir para retirar a maquilagem. Só que não teve tempo para isso e nem para tomar os Nembutals para o merecido sono. Dormiu para sempre. Na manhã seguinte, David Sebastian encontrou-a morta, um lenço de papel na mão e o pote de cold-cream ao seu lado, já arroxeada pelo ataque cardíaco. Fora vítima de um enfarte. Se fosse hoje, talvez ainda houvesse tempo para um marca-passo ou colocação de pontes de safena. Mas, assim como fora salva pela sulfa, Carmen não o seria pela ciência moderna, desse tipo de cirurgia. E a esfuziante Carmen Miranda (ela detestava que seu nome fosse escrito com "m"...), que adorava viver cercada de gente, que não me deixava sair antes que começasse a adormecer... Morreu sozinha, como tantos outros mitos de Hollywood. Até nisso, ela se identificou com eles. Tinha apenas 46 anos. Mas, graças a Deus — ao nosso Deus — atingiu a imortalidade na sua brilhante carreira. No seu funeral, no Rio de Janeiro, em 12 de agosto de 1955, o famoso carrilhão da Mesbla, na Cinelândia — perante quase um milhão de pessoas acompanhando o féretro (ver foto) — tocou o dia inteiro Taí, Adeus Batucada, Boneca de Piche, O Que é Que a Baiana Tem? e diversas outras músicas de Carmen, terminando com a tradicional Ave Maria de Schubert (uma das favoritas dela), que era executada todas as tardes, às 18 horas. Sete anos depois, no mesmo dia 5 de agosto, morria outro mito de Hollywood: Marilyn Monroe, que deixou admiradores no mundo inteiro. Como Carmen, ela foi um ídolo de homens, mulheres e crianças por causa do seu carisma internacional e marcante personalidade. Fala-se muito em Marilyn nos Estados Unidos, mas, até hoje, quando se chega nos States e se diz que é brasileiro, os americanos ainda perguntam, jovens ou velhos: "É da terra da Carmen Miranda?".
Dulce e Carmen
(Por Dulce Damasceno de Brito. Ninguém melhor para falar sobre Carmen. Dulce foi a jornalista brasileira que fazia a cobertura sobre os acontecimentos estelares na Hollywood dos anos 50, que se tornou amiga-confidente de Carmen Miranda e de quem, como podia se considerar, também uma filha.)
A quem possa interessar!
ResponderExcluirNão sei o nome de quem escreveu essa matéria sobre Carmem Miranda, que por sinal foi muito bem escrita,mas me parece que quem escreveu, só pesquisou a vida da atriz, mas precisa muito se informar a respeito da História do Brasil e de suas limitações, estamos em 2013 e mesmo se estivéssimos em 1939, 1940...os Estados Unidos sempre nos bajularam sim, primeira bajulação foi para entrar em uma guerra mundial que estava acontecendo nesse período e segundo somos produtores de varias matérias primas e temos setores de comércio e industria muito forte mundialmente, amigo saiba se expressar e estude, não se faça de intelectual as custas de outros, escreva sempre te apoio, mas não expresse opiniões erradamente, pois o Brasil tem muita pobreza e violência, mas é uma país que não faz guerras e nem precisa mais pedir dinheiro emprestado, mas concordo com você precisa melhorar algumas coisas, como qualquer outro país.
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ResponderExcluirNão sei o nome de quem escreveu essa matéria sobre Carmem Miranda, que por sinal foi muito bem escrita,mas me parece que quem escreveu, só pesquisou a vida da atriz, mas precisa muito se informar a respeito da História do Brasil e de suas limitações, estamos em 2013 e mesmo se estivéssimos em 1939, 1940...os Estados Unidos sempre nos bajularam sim, primeira bajulação foi para entrar em uma guerra mundial que estava acontecendo nesse período e segundo somos produtores de varias matérias primas e temos setores de comércio e industria muito forte mundialmente, amigo saiba se expressar e estude, não se faça de intelectual as custas de outros, escreva sempre te apoio, mas não expresse opiniões erradamente, pois o Brasil tem muita pobreza e violência, mas é uma país que não faz guerras e nem precisa mais pedir dinheiro emprestado, mas concordo com você precisa melhorar algumas coisas, como qualquer outro país.