Na velha cidade de El-Katif, apareceu uma vez um misterioso estrangeiro, um mago persa.
Comentava-se que ele se fazia acompanhar de três homens que eram rigorosamente iguais.
Não se podia descobrir um traço fisionômico, um tique ou uma particularidade qualquer que permitisse distinguir um dos tais homens dos outros dois sósias.
Tal notícia chegou aos ouvidos do rei Fahad, um poderoso monarca, que atingido por súbita curiosidade, declarou que queria conhecê-los.
Um rico cortejo foi preparado e o rei, acompanhado de sua comitiva, dirigiu-se à tenda erguida pelo mago em pleno deserto.
O soberano foi recebido com respeito e reverência, esclarecendo que desejava ver imediatamente os três homens iguais.
Concordando, o mago tratou de acomodar todos dentro de sua luxuosa tenda.
Quando todos encontravam-se sentados, o mago bateu palmas e pronunciou palavras que ninguém entendeu.
No fundo da tenda, sobre um tablado, ergueu-se um pano, surgindo um homem magro, moreno, vestido luxuosamente à maneira dos mercadores persas.
Eis, aí, ó rei magnânimo, o primeiro dos três homens iguais. - Disse solenemente o mago.
Pouco depois o homem retirou-se, desaparecendo atrás de pesada cortina que cobria o fundo do palco.
O mago bateu palmas novamente e surgiu do mesmo lugar um homem perfeitamente igual ao primeiro, vestindo os mesmos trajes.
Eis aí, ó rei magnânimo, o segundo dos três homens iguais. Disse agora o mago.
Os nobres olhavam-se desconfiados.
A um novo sinal o segundo homem afastou-se e desapareceu, como o outro.
Em seguida, o mago bateu palmas pela terceira vez.
Surgiu imediatamente no palco um terceiro homem igual aos outros dois.
Eis aí, ó rei magnânimo, o terceiro dos três homens iguais. - Afirmou o mago com firmeza.
Profundo mal-estar invadiu o ambiente, pois todos estavam certos de que se tratava de charlatanismo.
Não creio nesta farsa ridícula. - Falou o rei irritado. - Então, pensa que não percebi que se trata do mesmo homem apresentado por três vezes?
Acreditará em mim se agora vir os três homens juntos? - Questionou o mago com humildade.
E antes que o monarca pudesse responder, ergueu-se a pesada cortina que cobria o fundo do palco e todos puderam ver três homens perfeitamente iguais, de pé, imóveis, no meio do tablado.
Agora, sim. - Disse o rei sorrindo - Agora acredito que os três homens são realmente iguais.
Aproximando-se do monarca, o mago sussurrou.
Perdoe minha ousadia, mas Vossa Majestade não deve acreditar no que vê. - Afirmou o mago.
Sobre o tablado agora está um homem só.
As outras figuras que aparecem são imagens obtidas com o auxílio de espelhos combinados.
No início, porém, era verdade.
Apresentei três homens idênticos, um de cada vez, diante de Vossa Majestade, mas, como as aparências eram-me desfavoráveis, ninguém me deu crédito.
Agora usando apenas um dos homens e a ilusão dos espelhos, embora não fosse verdade, todos acreditaram em mim, porque as aparências estavam a meu favor.
Para evitar que qualquer dúvida restasse, o mago fez com que os três homens iguais passassem juntos diante do rei.
Assim também é a vida. - Esclareceu o mago. - Iludidos pelas aparências enganadoras das coisas, deixamos de acreditar na verdade para acolher em nosso coração o erro e a mentira.
* * *
Não permita que ilusões, por mais belas que sejam, transformem verdades em mentiras e vice-versa.
O erro acarreta inevitavelmente a dor, enquanto a verdade há de ser sempre causa de nossa libertação.
Redação do Momento Espírita, com base em texto do livro Os melhores contos, de Malba Tahan, ed. Record.
Em 22.10.2011.
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