domingo, 28 de junho de 2009

O que não tem preço


Estando no Japão quase tudo tem um preço. Até um favor que a gente pede para um conhecido como um reparo na porta é encarado como "arubaito". Afinal, as pessoas já puseram um preço na sua hora. Nada contra, mesmo por que já fui socorrida por várias pessoas em diversas situações, as quais disponibilizam um horário que poderia ser usado de outra forma para me dar uma mãozinha. Também já fui socorrida por amigos na minha mudança de apartamento, numa carona, para um desabafo regado a café e outras situações, sem que me cobrassem nada - nem em dinheiro nem em favores. Nessas horas sempre me vem à cabeça uma música que gostava muito de curtir nas rodinhas de samba da década de 70 chamada "Amigo é pra essas coisas", composta por Sílvio da Silva Junior e Aldir Blanc. É uma música linda! A letra é uma poesia que trata de um diálogo entre dois amigos, numa mesa de bar, onde um dá força para outro que está pra baixo. E, no finalzinho do diálogo, quando um oferece um "Cabral" (era uma nota do dinheiro da época em que havia o retrato de Pedro Álvares Cabral), o outro agradece dizendo que "sua amizade basta" e que "o apreço não tem preço".

Valores puros como esses citados nessa poesia, da amizade sincera e dessa estima valiosa às vezes ficam adormecidos quando se vive no exterior em busca do ouro. Então, de vez em quando, há que se parar para ouvir a voz interna do coração ao se perguntar o que não tem preço. Isso quer dizer quais são as coisas, sentimentos e valores que, de tanta estima, emoção, encanto e amor, não podem ser quantificados em ienes, dólares ou reais. Porém, podem ser qualificados como tesouros pessoais.

Cada um tem uma lista própria e a sugestão desta coluna é parar para reavaliar isso. Vou citar alguns ítens para ajudá-lo a investigar qual é o seu universo de "coisas" que você não colocaria preços. Dá para imaginar o valor de sua saúde, por exemplo? Quanto ela custaria? Cinquenta mil dólares? Menos ou mais? Não dá para quantificar, não é mesmo? O mesmo acontece com seus filhos, marido, esposa, pai, mãe e todas as pessoas queridas. Este é só o começo dessa lista. Então, veja outros: sono, abraço caloroso, um ombro amigo, álbum de fotos, um curso profissionalizante, um sorriso sincero, uma carta, um gesto de solidariedade, palavras de conforto e muito mais. Aqui entram os que você recebe e os que você dá ou doa, sem esperar nada em troca. Quando as coisas são feitas com amor não se espera que a pessoa faça o mesmo. Porém, quando você é socorrido, quando é convidado para um jantar ou recebe algo inesperado não custa nada retribuir.

Antigamente as vizinhas trocavam favores e costumavam retribuir com um pote de geléia feita na hora ou um bolo bem cheiroso. Com a vida corrida, ainda mais em metrópoles, onde os vizinhos nem se conhecem esse hábito foi se perdendo. Mas se você for criativo vai encontrar um forma especial e toda sua de oferecer um mimo como forma de agradecimento
Voltando ao assunto principal, como vai a sua lista? Se você passar para o papel o que está pensando e avaliando vai se dar conta da imensidão de preciosidades. Estou sugerindo isso por que vai fazer um bem enorme, como uma respiração profunda. Você pode até dar um título para essa lista do que não tem preço. Isso vai fazer você revisar e reavaliar os seus propósitos da estada no Japão e nunca abandonar o que é mais valioso do que o dinheiro que está ganhando nesse país. O dinheiro é importante sim. É fundamental para garantir a moradia, a alimentação, o vestuário, os bens necessários para viver e para patrocinar os seus sonhos mas nunca vai ser imprescindível. Pois, a sua lista de bens sem preço são tão ou mais importantes que o ouro sedutor.

Para finalizar, sugiro mais uma atitude: fixe a sua lista na sua agenda ou em algum local que você possa visualizar sempre como se fosse um lembrete para não perder o foco. Seja sempre feliz!

Anna Shudo

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