As artistas dizem que são bissexuais. As meninas ficam com outras meninas. Alguma coisa está mudando ou é tudo marketing e imitação?
Martha Mendonça e Fernanda Colavitti
Sophie Marceau (à esq.) e Monica Bellucci no Festival de Cannes. A encenação gay ajuda a divulgar o filme da dupla, Don’t look back
Elas são bonitas, femininas, vaidosas. E gostam umas das outras. Ao menos é o que dizem – e dizem cada vez mais. Em três semanas consecutivas de maio, três estrelas americanas famosas revelaram que sentem atração pelo mesmo sexo. Megan Fox, símbolo sexual da nova geração, afirmou que prefere as mulheres por serem mais “limpinhas”. O furacão Fergie, do Black Eyed Peas, disse que gostou de experimentar moças. A performática Lady Gaga confirmou sua bissexualidade – e aproveitou para lançar um clipe da nova música beijando outra mulher. Em abril, fora a vez de Kelly McGillis, musa dos anos 80.
A jovem atriz americana Lindsay Lohan, ídolo teen do cinema, não tem escondido sua dor de cotovelo depois que a namorada, uma DJ, a abandonou. Isso sem falar na megaestrela Angelina Jolie, que, antes de se tornar mãe de família, alardeava sua bissexualidade (Brad Pitt acreditou, mas na cama do casal, em vez de outras mulheres, há cada vez mais crianças). No Brasil, Preta Gil não cansa de se rotular como “total flex”. Afinal, trata-se da liberação de um desejo feminino ou de estratégia de marketing?
Para os especialistas, as duas respostas estão corretas. O erotismo que envolve duas mulheres é infalível em termos de mídia – graças à curiosidade geral sobre a homossexualidade e ao fato de ser a fantasia número um dos homens. Mas a natureza feminina, mais flexível e com menos defesas em relação à afetividade, acaba proporcionando uma liberdade maior no campo sexual – sem que necessariamente haja rotulações. “Viver uma ou outra experiência com alguém do mesmo sexo é diferente de ser bissexual”, afirma Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do Projeto Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP). “Nem todas as pessoas crescem com uma definição tão absoluta quanto à orientação sexual. Muitas vezes é preciso amadurecer para chegar a uma identidade. E hoje existe uma maior permissividade para a experimentação.” Lançado no ano passado, o livro Look both ways (Olhe para os dois lados), das terapeutas americanas Elizabeth Oxley e Claire Lucius, vai na mesma direção. Para as autoras, homens e mulheres têm a mesma curiosidade sobre o mesmo sexo. Mas as mulheres, que não têm barreiras em beijar e abraçar confortavelmente suas amigas, migram mais facilmente para o teste sexual. Até aí, tudo bem. Mas é mesmo necessário contar tudo na primeira entrevista?
“É marketing total”, diz a webdesigner paulista Del Torres, idealizadora do Leskut – um site de relacionamentos só entre meninas que, em nove meses, já tem 14 mil participantes. Lésbica assumida, 29 anos, ela diz que, quando existe o desejo verdadeiro, o comportamento é discreto. “As celebridades estão cansadas de saber que esse tipo de declaração chama a atenção, além de torná-las modernas e mais interessantes.” Del lembra a história da dupla de rock russa t.A.t.U. Em 2004, as duas meninas já haviam vendido mais de 2 milhões de CDs, alardeando a ideia de que eram namoradas. No clipe mais famoso, da música “All the things she said” (“Todas as coisas que ela disse”), mostravam o sofrimento por um amor proibido. Usando uniforme de estudantes. Na chuva. “Quando a dupla se desfez, uma delas engravidou do namorado secreto, com quem está casada até hoje”, diz Del. Agora querem voltar a gravar juntas e já avisaram, em entrevista recente: “Quando bebemos, ainda ficamos”.
Não há dúvida de que mulher com mulher dá audiência. Há quem diga que tudo começou com o beijo cinematográfico que Madonna deu em Britney Spears no Video Music Awards, em 2003. Não foi um selinho. Justin Timberlake, ex de Britney e a caminho, na época, de tornar-se parceiro musical de Madonna, não conseguiu disfarçar o choque, registrado pelas câmeras. Hoje, apenas cinco anos depois, talvez já achasse normal.
Há uma epidemia de beijos femininos na mídia, das brasileiras do axé Daniela Mercury e Alinne Rosa, na gravação de um DVD no ano passado, às francesas Sophie Marceau e Monica Bellucci, nuas e abraçadas na revista Paris Match deste mês. No último Big brother, a sensação foi o selinho debaixo d’água de Priscila e Milena, que bateu recordes nos sites de notícias. O recém-formado grupo nacional Sexy Dolls anunciou, em seu primeiro clipe, um “beijo triplo”. O vídeo ficou quase uma semana entre os mais vistos do portal Globo.com. Até Woody Allen não resistiu e colocou no filme Vicky Cristina Barcelona uma cena em que Scarlett Johansson beija Penélope Cruz – acontecimento que foi badalado insistentemente anos antes de o filme entrar em cartaz.
A jovem atriz americana Lindsay Lohan, ídolo teen do cinema, não tem escondido sua dor de cotovelo depois que a namorada, uma DJ, a abandonou. Isso sem falar na megaestrela Angelina Jolie, que, antes de se tornar mãe de família, alardeava sua bissexualidade (Brad Pitt acreditou, mas na cama do casal, em vez de outras mulheres, há cada vez mais crianças). No Brasil, Preta Gil não cansa de se rotular como “total flex”. Afinal, trata-se da liberação de um desejo feminino ou de estratégia de marketing?
Para os especialistas, as duas respostas estão corretas. O erotismo que envolve duas mulheres é infalível em termos de mídia – graças à curiosidade geral sobre a homossexualidade e ao fato de ser a fantasia número um dos homens. Mas a natureza feminina, mais flexível e com menos defesas em relação à afetividade, acaba proporcionando uma liberdade maior no campo sexual – sem que necessariamente haja rotulações. “Viver uma ou outra experiência com alguém do mesmo sexo é diferente de ser bissexual”, afirma Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do Projeto Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP). “Nem todas as pessoas crescem com uma definição tão absoluta quanto à orientação sexual. Muitas vezes é preciso amadurecer para chegar a uma identidade. E hoje existe uma maior permissividade para a experimentação.” Lançado no ano passado, o livro Look both ways (Olhe para os dois lados), das terapeutas americanas Elizabeth Oxley e Claire Lucius, vai na mesma direção. Para as autoras, homens e mulheres têm a mesma curiosidade sobre o mesmo sexo. Mas as mulheres, que não têm barreiras em beijar e abraçar confortavelmente suas amigas, migram mais facilmente para o teste sexual. Até aí, tudo bem. Mas é mesmo necessário contar tudo na primeira entrevista?
“É marketing total”, diz a webdesigner paulista Del Torres, idealizadora do Leskut – um site de relacionamentos só entre meninas que, em nove meses, já tem 14 mil participantes. Lésbica assumida, 29 anos, ela diz que, quando existe o desejo verdadeiro, o comportamento é discreto. “As celebridades estão cansadas de saber que esse tipo de declaração chama a atenção, além de torná-las modernas e mais interessantes.” Del lembra a história da dupla de rock russa t.A.t.U. Em 2004, as duas meninas já haviam vendido mais de 2 milhões de CDs, alardeando a ideia de que eram namoradas. No clipe mais famoso, da música “All the things she said” (“Todas as coisas que ela disse”), mostravam o sofrimento por um amor proibido. Usando uniforme de estudantes. Na chuva. “Quando a dupla se desfez, uma delas engravidou do namorado secreto, com quem está casada até hoje”, diz Del. Agora querem voltar a gravar juntas e já avisaram, em entrevista recente: “Quando bebemos, ainda ficamos”.
Não há dúvida de que mulher com mulher dá audiência. Há quem diga que tudo começou com o beijo cinematográfico que Madonna deu em Britney Spears no Video Music Awards, em 2003. Não foi um selinho. Justin Timberlake, ex de Britney e a caminho, na época, de tornar-se parceiro musical de Madonna, não conseguiu disfarçar o choque, registrado pelas câmeras. Hoje, apenas cinco anos depois, talvez já achasse normal.
Há uma epidemia de beijos femininos na mídia, das brasileiras do axé Daniela Mercury e Alinne Rosa, na gravação de um DVD no ano passado, às francesas Sophie Marceau e Monica Bellucci, nuas e abraçadas na revista Paris Match deste mês. No último Big brother, a sensação foi o selinho debaixo d’água de Priscila e Milena, que bateu recordes nos sites de notícias. O recém-formado grupo nacional Sexy Dolls anunciou, em seu primeiro clipe, um “beijo triplo”. O vídeo ficou quase uma semana entre os mais vistos do portal Globo.com. Até Woody Allen não resistiu e colocou no filme Vicky Cristina Barcelona uma cena em que Scarlett Johansson beija Penélope Cruz – acontecimento que foi badalado insistentemente anos antes de o filme entrar em cartaz.
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