terça-feira, 26 de maio de 2009

MURASAKI SHIKIBU

Recentemente, foi lançada no Japão uma novidade: a cédula de 2000 ienes. A cédula traz na frente a ilustração de Shurei no mon como homenagem à Okinawa Summit, reunião da cúpula mundial realizada em Okinawa. No verso traz uma ilustração de Genji Monogatari ou Estória de Genji, da autoria de Murasaki Shikibu.
Nas cédulas do passado eram comuns ilustrações do príncipe Shootoku Taishi (575- 622, construiu a base para uma Nação de Sistema Imperialista e contribuiu para a difusão do Budismo) e políticos. Hoje, no entanto, levando em conta a era da globalização em que vivemos, foram escolhidos três personagens que tiveram importantes papéis nas relações do Japão com o exterior.

Assim, a cédula de 10 mil ienes traz Fukuzawa Yukichi,(1834-1901, Ideologista do Período Meiji, jornalista e educador que introduziu no Japão o modelo educacional Europeu), a de 5 mil ienes traz Nitobe Inazo (1862-1933, educador do Período Meiji, o primeiro a escrever em inglês sobre o Japão para que os países da Europa pudesse conhecer) e a de mil ienes traz o retrato de Natsume Soseki (1867-1916, escritor de maior prestígio do Período Meiji no Japão e que introduziu o individualismo Europeu naquele país).
Na ocasião, até houve manifestações indagando a razão de não ter sido escolhida nenhuma personalidade feminina, mas a idéia ainda não havia sido concretizada. A nova cédula de 2 mil ienes veio realizar esse anseio, tendo como tema a figura feminina Murasaki Shikibu (987-1015?).
Por não termos dela nenhuma imagem retratada, a homenageada foi representada por uma das cenas desenhadas em pergaminho, da sua obra Genji Monogatari, o mais antigo romance do mundo. A revista brasileira "Veja" fez um levantamento dos importantes acontecimentos deste milênio, entre os quais citou o ano de 1001 como o ano em que foi escrito Genji Monogatari. A obra, apesar de ser a mais antiga do gênero no mundo, é rica em descrições psicológicas do ser humano, tais como amor, ódio, solidão ou conformação, sendo a autora elogiada como escritora de primeira classe em descrições psicológicas.

Não se sabe o nome desta escritora que atuou nos meados do Período Heian, apenas sabe-se que foi filha de Fujiwarano Tametoki, administrador de Echigo (função equivalente ao atual governador da Província de Niigata). Os registros históricos não trazem nomes femininos, a não ser que estas sejam membros da família imperial. São sempre citadas como mulher ou filha de alguma personalidade masculina. Inicialmente, a escritora era citada como Tôo no Shikibu.
O nome Tôo originou-se de Fujiwara e Shikibu nada mais é do que forma de tratar as kyuutei no nyooboo, ou damas da corte (nyooboo hoje em dia significa esposa, mas na época tratava-se de pessoas que trabalhavam na corte ou de filhas da baixa nobreza), conforme a função que seu pai ocupava.
Posteriormente, adotou o nome de Murasaki no ue, personagem feminina principal de Genji Monogatari. Tudo indica que o romance cativou a imperatriz e demais senhoras da nobreza da época e fez sucesso em suas reuniões, semelhantes aos salões da Europa.
Este romance tece o trama em torno do personagem central Hikaru Genji, membro da família Imperial, narrando seus casos amorosos desde sua infância até seus dias finais, colocando em cena mulheres de variados níveis sociais e tendo como cenário as disputas de poder dentro do Palácio e as transformações da natureza.
Neste extenso romance, entram em cena inúmeras mulheres, o que mostra que o personagem principal leva uma vida de playboy inveterado.
A obra é longa, composta de 54 volumes de episódios com enredos desencadeados de forma variada e interessante, sobre os quais, é forte a tese de que não são todos da autoria de Murasaki Shikibu. O sucesso além da expectativa fez com que novos episódios fossem criados, sendo que a metade posterior teria sido escrita por outro autor. Não há ainda uma tradução completa para o português, mas há pode ser lido em outros idiomas como inglês, francês e alemão.

Murasaki Shikibu nasceu em uma família de alto nível cultural, com parentes próximos como avô, pai e tia considerados famosos poetas, que escreviam obras em chinês e japonês. Segundo seu Diário de Murasaki Shikibu, ela foi uma criança muito inteligente e seu pai então lamentava por não ter ela nascido homem. Não foi muito abastada financeiramente pois seu pai não recebeu da corte altos cargos ou territórios.
Casou-se com um homem 20 anos mais velho com quem teve uma filha (mais tarde a filha também se torna poetisa), mas este veio a falecer três anos depois. Consta nos registros que após a morte do marido, Murasaki Shikibu passou a trabalhar na Corte Imperial, dando aulas de literatura chinesa a imperatriz. Era portanto, uma mulher talentosa da época. Com certeza, nem imaginava ela que sua obra fosse lida até o século 21, por pessoas do mundo inteiro. Ficaria ainda deveras surpresa se soubesse o quanto as mulheres da atualidade conquistaram em termos de independência financeira e elevação de posição dentro da sociedade.

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