Tutancâmon, o faraó-menino, subiu ao trono com apenas 10 anos e morreu aos 19. Seu curto reinado, entre 1333 a.C. e 1324 a.C., não se conta entre os mais importantes do antigo Egito, mas nenhum outro faraó exerce tanto fascínio na imaginação moderna. O mundo ficou deslumbrado quando, em 1922, arqueólogos ingleses encontraram sua câmara mortuária intacta – e não saqueada através dos séculos, como ocorrera com as tumbas de outros figurões do império egípcio. Lá estavam a múmia de Tutancâmon e todos os objetos depositados junto a ela para ajudar o faraó a atravessar a eternidade: joias, mobiliário, armas, textos religiosos e outros itens de valor inestimável para entender melhor o Egito de 3 300 anos atrás. Agora, um estudo conduzido por pesquisadores do Egito, Itália e Alemanha, divulgado na semana passada pelo Journal of the American Medical Association, esclarece vários mistérios relacionados à vida do próprio Tutancâmon. A pesquisa traz uma série de surpresas.
A equipe analisou a múmia de Tutancâmon e as de outros dez membros da família real encontradas no Vale dos Reis, a 500 quilômetros do Cairo. Foram colhidas amostras de DNA e realizados exames de tomografia dos corpos mumificados. Devido a uma perfuração que a múmia de Tutancâmon apresenta no crânio, tinha-se como hipótese que ele fora assassinado. Nada disso. Os exames de DNA revelaram que o faraó foi vítima do parasita Plasmodium falciparum, agente responsável pela malária tropical, a forma mais letal e virulenta da doença. As tomografias confirmaram que Tutancâmon sofreu uma fratura no fêmur direito, próxima ao joelho, dias antes de sua morte. A conclusão dos cientistas é que uma infecção causada pela fratura colaborou para que o estado de saúde do faraó piorasse e ele não resistisse à malária.
O novo estudo também explica por que Tutancâmon tinha uma série de más-formações, como fenda palatina e doença de Köhler-Freiberg (veja o quadro). Na análise do grupo de onze múmias reais, descobriu-se que os pais do faraó-menino eram irmãos e que provavelmente o próprio Tutancâmon tenha se casado com uma irmã ou meia-irmã. A fragilidade do faraó talvez tenha sido uma consequência da união consanguínea de seus pais e de outros antepassados. No túmulo, junto ao corpo do faraó, foram encontrados dois fetos mumificados – é possível que sejam seus filhos, também vítimas de uma união consanguínea.
Não se sabia ao certo quem foi o pai de Tutancâmon. A análise do DNA das onze múmias permitiu aos pesquisadores traçar a genealogia de cinco gerações da 18ª dinastia do antigo Egito. Descobriu-se que o pai de Tutancâmon foi o faraó Akhenaton, que reinou de 1351 a.C. a 1334 a.C. Akhenaton foi um governante revolucionário, que abandonou a religião oficial e impôs a adoração exclusiva de um único deus, Aton. Ele também construiu uma cidade no deserto, chamada Amarna, para ser o centro do culto a Aton. Quando Tutancâmon subiu ao trono, o clero palaciano tratou de restaurar a religião tradicional. A famosa rainha Nefertiti era a esposa principal de Akhenaton. Entretanto, os pesquisadores rechaçam a ideia de que ela seria mãe de Tutancâmon. A identidade da mãe do faraó-menino, irmã de Akhenaton, ainda é um mistério.
Na tentativa de explicar a morte precoce de Tutancâmon, criaram-se vários mitos relacionados. Em muitas imagens, o faraó é retratado com traços afeminados: seios proeminentes, quadris largos e feições delicadas. Desde que a múmia foi descoberta, pesquisadores aventaram a possibilidade de que anomalias genéticas – entre elas, síndrome de Marfan, ginecomastia e síndrome de Klinefelter – explicassem tanto as formas andróginas de Tutancâmon quanto sua morte prematura. Todas elas foram descartadas pelo estudo. "Muitas das hipóteses anteriores foram levantadas por pessoas que nunca viram uma múmia de perto. Essa investigação teve acesso irrestrito às múmias, o que assegura um diagnóstico muito mais exato sobre a morte de Tutancâmon", disse a VEJA o médico e historiador americano Howard Mar-kel, da Universidade de Michigan, que assina o prefácio do estudo no Journal of the American Medical Association. Os próprios autores da pesquisa admitem que o diagnóstico para a morte de Tutancâmon não é definitivo, mas é o mais preciso que a ciência até hoje pôde cravar.
Fonte: http://veja.abril.com.br/
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