terça-feira, 24 de março de 2015

Somos visita ou inquilinos no Japão?


Concordo que o Japão tem suas particularidades, mas, como imigrantes, somos apenas visitantes necessitados, forçados a aceitar o julgamento daqueles que nos consideram como trabalhadores descartáveis e indesejados? Ou, somos inquilinos com um contrato de proveito mútuo, com voz e direito de reclamar quando há um problema no condomínio? Perguntas longas como essas, requerem respostas pensadas e esse é o meu objetivo: fazer você pensar sobre o seu papel no Japão.

Fico irritado com os argumentos simplistas dos opositores daqueles que questionam o papel crítico do imigrante estrangeiro na sociedade japonesa. “Se não está feliz, por que não volta para o seu país de origem?” Esse tipo de argumento é vago e, geralmente, vomitado por aqueles que se sentem inferiores e desconhecem o real papel do imigrante na sociedade de um país.

Devo retornar ao Brasil pelo fato de criticar o comportamento machista e opressor da sociedade japonesa? Devo fazer as minhas malas e zarpar do Japão por não concordar com decisões políticas de governantes que não tenho o direito de eleger, mas que influenciam diretamente na minha vida diária?

Há uma fina linha entre a crítica legítima do comportamento e a crítica da cultura de um país. A cultura do Japão, que em algumas vezes é expressada em comportamentos considerados estranhos para nossa mente ocidental, é intocável pelas palavras de qualquer estrangeiro, imigrante ou não. Devemos respeitar a cultura japonesa, pois é ela que pavimentou a prosperidade e o respeito que este país conquistou após a vergonhosa derrota na Segunda Guerra Mundial. Mas, o comportamento racista e opressor (da esmagadora minoria), pode e deve ser criticado. Decisões políticas de retrocesso, podem e devem ser criticadas pelos imigrantes.

Diferentemente daqueles que cruzam fronteiras ilegalmente e arriscam suas vidas para conseguir trabalho em um país mais próspero, uma lei imigratória da década de 90 – aprovada pela necessidade de mão de obra – e a descendência herdada de meus antepassados me deu o direito de ter meu passaporte carimbado com o visto de trabalho de longa permanência.

Não sei quanto a você, mas não moro do Japão pela boa vontade do governo japonês e não estou aqui de favor. Tenho um acordo com o Japão: Trabalho, pago meus impostos, gasto meu dinheiro com restaurantes, roupas, eletrônicos e todas as maravilhas consumistas que esse país me oferece. Em troca, o Japão me oferece segurança, estabilidade financeira e uma oportunidade única de aprendizado. Sou grato ao país pela oportunidade, mas não devo gratidão pelas minhas conquistas e pelo meu salário.

Há uma via de duplo sentido na nossa relação com o país. No caso específico do Japão e os dekasseguis brasileiros, nessa relação não teria de haver ganhadores e perdedores, mas as circunstâncias fazem alguns pensarem que não somos “dignos” de receber o que temos direito: respeito e um tratamento justo.

Talvez o seu senso crítico tenha sido amordaçado pelo complexo de inferioridade ou por medo de cometer os mesmos erros daqueles que personificam o diabo no corpo de um japonês. Quanto a mim, continuarei criticando legitimamente o país que amo e que escolhi para viver.







Fonte: IPC Digital

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Achei muito legal esta matéria!!!
Acho que o Japão vive hoje, um problema que países como o Brasil, viveram no século passado com a chegada dos estrangeiros...
Eu creio que é um assunto muito delicado e que pode nos levar a várias opiniões.
Eu penso da mesma forma que o autor do texto quando diz que deve ao Japão a oportunidade de estar aqui, mas não pelas conquistas e salário...
Foi como no emprego em que trabalho a mais de cinco anos. Foi o ex marido de uma de minhas primas que me conseguiu a entrevista, mas se estou lá a tantos anos, é por minha competência profissional e não pela entrevista que me conseguiram...
Eu acho que devemos respeitar muitas das regras e leis japonesas, porque se o país é o que é, é por causa delas.
O Brasil é um exemplo vivo do que faz o desrespeito as leis e as regras ao país....
Bom, é o que penso... rs

Um comentário:

  1. O que mais se admira no Japão, realmente, é a ordem, a disciplina e o respeito.
    Não posso opinar sobre o texto, mas posso falar que estar em um país, onde o
    que mais se vê é a desordem, corrupção e o desrespeito às Leis, não é nada bom.
    Agradeço, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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