Mensagem de Chico Xavier aos Nikkeis Brasileiros no Japão

Trecho da Mensagem de Francisco Cândido Xavier, psicografado por Sônia L. Sumi

“Meus queridos irmãos, chegou o momento em que mais do que nunca, se faz necessário da parte dos nikkeis, a conscientização do imenso valor dos seus antepassados e o aprendizado e a aplicação desses valores dentro do dia-a-dia de cada um. Não só os nikkeis, mas todos os brasileiros de passagem pelo solo nipônico, devem seguir o exemplo brilhante de trabalho, disciplina e união que o imigrante japonês soube manter durante o tempo em que esteve ausente da sua terra natal. Como nós também, eles tiveram que abandonar o seu país, por imposição de uma força maior ou de um simples “acaso”; assim como nós, eles sofreram a saudade da Pátria, mas conseguiram ser mais fortes que a dor da saudade. Em sua maior parte, assim como nós, tinham as suas ilusões e aspiravam por dias melhores de sorrisos e coroados de glória e felicidades. Eles foram para o Brasil cheios de esperanças, levando em sua bagagem a coragem, o espírito de luta por dias melhores. Exatamente como os brasileiros hoje vem ao Japão... Uns por melhores condições financeiras, outros para estudar e outros, porque os compromissos matrimoniais estabeleceram que assim o fosse. Também eles estavam distante dos seus mais caros afetos, das suas crenças, tradições e valores sociais. Também eles se sentiram afetados por diferentes valores que a sociedade brasileira inevitavelmente incutia neles e em seus descendentes.

Mas eles foram grandes, souberam suportar com coragem todas as dores e desencontros que abalaram as suas convicções, acatando às normas sociais e respeitando as divergências culturais do país que lhes ofereceu novas expectativas de uma vida talvez melhor.

Era natural que entre eles, por uma questão de amor e respeito às suas raízes (jamais de preconceito contra o povo brasileiro), houvesse a forte necessidade de educar os seus filhos dentro de princípios válidos para a sociedade japonesa, de transmitir aos seus descendentes o amor e respeito pelo país querido que tinha ficado do outro lado do oceano... E o fruto desse amor e respeito é justamente o coração dividido entre duas nações. Hoje nós também procuramos manter, consciente ou inconsciente, o amor e o respeito pela Pátria que nos viu nascer, nos tornando até, muito mais brasileiros aqui, do que lá no Brasil, defendendo o que aprendemos dos nossos antecedentes como valores inalteráveis e insistindo em procurar a companhia dos nossos patrícios, o aconchego do calor humano típico da nossa terra distante, o afeto que nós brasileiros somos tão espontâneos ao transmitir, o sabor da comidinha que nos lembra a doçura da nossa infância e a ternura do nosso lar...

Mas é de urgente e extrema importância, meus irmãos, que nós não nos tornemos tão radicais, em nossos impulsos de auto-defesa.

Lembremos a realidade de que aqui também podemos encontrar calor humano e ternura sincera, pois o mesmo sol que brilha e ilumina os dias do nosso Brasil, também brilha e ilumina a Terra do Sol Nascente. Levemos em consideração o fato de que o coração do japonês sendo tão sensível quanto o coração do brasileiro, muitos japoneses sofrem muito intimamente, por não poderem expressar os seus sentimentos, por não poderem abrir o coração de forma tão natural quanto é capaz o brasileiro... São frutos dos valores sociais que foram incutidos dentro deles. E o que é muitas vezes visto como frieza, pode ser apenas uma forma de auto-defesa.

Não esqueçamos, que por trás da “máscara fria”, nossos irmãos japoneses carregam também, dentro de um corpo físico de carne e osso, um coração que pulsa e ama com a mesma intensidade que o nosso, em suas veias também, circulam o líquido vermelho da vitalidade, a alma do japonês, exatamente como é normal num ser humano, é sensível às boas maneiras e aos gestos fraternais, também abriga um jardim cheio de flores em botões, esperando o jardineiro que tenha o cuidado de regar e cuidar, arrancando as ervas daninhas e permitindo que as flores das virtudes possam desabrochar, exaltando o seu perfume de amor, cantando uma melodia de louvor à natureza, logo ao toque das primeiras brisas da primavera. Nós não devemos nos envergonhar de expressar-lhes o nosso respeito e estima, mas antes devemos cooperar para a harmonia, nos valendo do sentimento fraterno que deve unir todos os homens segundo a vontade do Criador Universal, para sermos os jardineiros dos corações e favorecer a recepção da brisa primaveril, qua auxilia as flores a exaltar sua beleza e a desabrochar, exaltando perfume para enfeitar nossas vidas.

A lei do amor e da caridade é sempre a mesma para todos os povos, credos religiosos e filosofias.

É muito bom podermos dividir com os japoneses, o nosso carinho, amizade e ternura, e é muito melhor ainda, podermos receber deles, carinho, amizade e ternura. É dando que se recebe, meus irmãos. Fico triste quando ouço alguém dizer que “japonês é frio”. Será que nós não estamos querendo receber o que ainda nem ofertamos? A partir do momento em que decidimos fazer de um país, a nossa morada temporária ou definitiva, é recomendável que nos prontifiquemos a fazer um intercâmbio cultural saudável e humano, respeitando as divergências culturais, discutindo sem agredir, sem tentar mudar todo um sistema que não nos diz respeito. A Sabedoria Oriental nos auxilia a educar nossas mentes, a fim de adquirirmos uma das mais gloriosas virtudes: a paciência. Somos todos passageiros em trânsito na Terra, devemos aprender a suportar os choques como forma de educação para nossas almas.

Exemplificamos o caso dos imigrantes japoneses, que chegando ao Brasil, também necessitaram de coragem para suportar os choques culturais, usando de prudência e humildade, aceitando os valores vigentes dentro da sociedade brasileira; valores tão diferentes para eles, os japoneses, quanto para nós brasileiros, são diferentes os valores dentro da sociedade nipônica. Respeitar esses valores é procurar a adaptação da nossa personalidade dentro deles, é uma forma de educar o nosso espírito e ao mesmo tempo exprimir o nosso respeito pelo povo japonês.

O Japão é uma bela terra e seu povo é generoso, pois apesar de disporem de um espaço tão pequenino, abriram suas portas e receberam tantos irmãos de tantas terras diferentes.

A cada um cabe, segundo a sua pequenez ou grandeza interior, seguir em frente amando e adaptando-se, ou retroceder, impossibilitando de compreender outros pontos de vistas que não seja o seu.
Naturalmente, compreendendo, seremos compreendidos. E o japonês sabe compreender as dificuldades de adaptação de um estrangeiro dentro do Japão. Se procurarmos conhecer a cultura japonesa, evidentemente, conheceremos melhor os japoneses, e consequentemente o nosso relacionamento será cada vez melhor.

Cada povo tem seu próprio talento. O talento do povo brasileiro é fazer amigos, exteriorizar a sua ternura e colaborar dessa forma, para a consolidação da grande família Universal. Este talento constitui na realidade, a maior riqueza do nosso povo, enquanto o maior talento do povo japonês e o que constitui em realidade a sua grande riqueza, segundo a Espiritualidade Maior, é a capacidade de disciplina, esforço e entrega ao trabalho.

Nos esforcemos em aprender tudo de bom que formos capazes e em transmitir tudo de bom que houvermos acumulado dentro de nós.

Lembremos que todo aquele que está em paz com sua consciência, sente-se bem onde quer que se encontre, tem família e lar onde quer que pare, porque faz dos forasteiros do caminho seus próprios irmãos de caminhada.

Devemos agradecer a Deus, porque além da lição de igualdade, uma encarnação deste gênero, nos oferece a oportunidade de impulsionar o progresso, derrubando as maiores muralhas que separam o homem da felicidade: o racismo, o egoísmo, o ódio e a inveja.

Que Deus nos dê coragem e abençoe a todos nós, não somente japoneses e brasileiros, mas a todos os homens que se irmanam naturalmente pela sua própria natureza. Que a Energia de nosso Pai Maior, possa irradiar sua luz, envolvendo a todos os seres do nosso planeta, para que cada um descubra seu caminho, dentro do mais completo respeito mútuo.”