Se você espera ler algum tipo de manual, ou mesmo dicas rápidas, esqueça. O texto abaixo é, na realidade, uma crítica à indústria do “seja legal, seja interessante”.
O texto linkado acima é interessante. O cara que o escreveu, Jonathan Morrow, aparentemente domina o assunto, e escreve bem, de forma legível e com toques de pessoalidade que prendem a atenção de quem o lê. Isso é ser interessante, mas em parte; “escrever bem” é espécie do gênero “ser interessante”.
A coisa não se limita a isso, à escrita, ou para ser mais exato, ao escrever bem. Pense grande: somos mais de seis bilhões de pessoas, vivendo num mundo cada vez mais maluco, numa multiplicidade de influências, culturas e princípios estonteantemente grande. Para a infelicidade dos que crêem que basta ler e aplicar vinte dicas sobre como ser interessante constantemente, a verdade é que não dá para sê-lo sempre, nem com todo mundo.
Ser interessante demanda um estado de espírito inclinado a isso, ou seja, aquela velha lenga-lenga do “sinta-se bonito para que os outros o achem bonito”, devidamente adaptado ao caso. Qualquer ser humano passa por momentos de crise, difíceis, tristes. Por mais inabalável que alguém seja, há horas em que a resistência falha, e este super ser sente-se combalido. Esse estado mina o potencial de ser interessante de qualquer um, por mais interessante que esse qualquer um seja normalmente.
Outro fator decisivo para ser interessante é o interlocutor. Afinal, todo mundo pensa que si próprio é o ser mais interessante da Terra, não? Saber chamar a atenção do interlocutor é uma arte que pessoas interessantes dominam, mas que, mesmo essas, não conseguem em todas as ocasiões. Imagine um comediante tentando entreter uma platéia formada por pessoas sem senso de humor. Seria difícil.
Tudo depende de encontrar as pessoas certas, que lhe ache interessante pelo que você é, sabe e conhece. Despertar o interesse dos outros está diretamente relacionado à nossa bagagem, ao que vivemos, consumimos, guardamos. Se eu sou jurista, e me encontro com outro jurista para falarmos sobre Direito, as chances de um achar o outro interessante são maiores do que se eu encontrasse um engenheiro para discutir leis. Esse exemplo é bastante tangível, mas na maioria das vezes são detalhes comuns mais abstratos e abrangentes que geram a almejada cumplicidade, que na minha opinião, é o passo seguinte ao interesse.
Interesse… Já parou para analisar essa palavra friamente? Buscamos nos outros o que queremos, o que nos interessa. Aquela propaganda do bombom Serenata de Amor, uma das mais legais que vi recentemente, segue o raciocínio do que tentei explicar nessas parcas linhas de texto. “Toda panela tem sua tampa”, velho ditado que invariavelmente serve de alento para encalhados, é outro exemplo do que quero dizer. Resumindo tudo numa frase: seja você mesmo, e isso atrairá quem o ache interessante.
Sempre vi uma inversão de papéis, ou seja, alguém se esforçando para ser interessante a outrem; o certo seria, acho eu, nos esforçarmos para encontrar que nos interesse. Ou nem isso. Essas coisas acontecem tão naturalmente, que quando menos se espera, temos um grupo de amigos com afinidades parecidas e uma companheira compreensível. Só não dá para esperar o mesmo de parentes e colegas de trabalho, afinal, esses não se escolhe.
Créditos: http://www.rodrigoghedin.com.br/
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