Espanhóis fizeram o uso de cães para massacrar índios durante o período de colonização
Escrito por Samantha Kelly
Jornalista do Portal do Dog
Como uma boa nordestina, já escutei muitas vezes e declarei outras tantas estar aperreada ou com aperreio, com o intuito de expressar um sentimento de impaciência, agonia, ansiedade ou para referir a uma situação difícil.
Apesar de seu significado atual, a palavra na verdade tem origem na colonizaçao espanhola da América do Sul em um contexto perverso, reflexo cru e real das barbaridades que os nativos sofreram e que nós, atualmente, aprendendo uma versão romantizada da história, não temos acesso.
Aperreado tem origem na palavra perro, que em espanhol significa cachorro. Aperreamiento (aperreamento em português), então, significaria literalmente ser alvo do ataque de cães. O surgimento da palavra veio da prática odiosa de atiçar cães ferozes contra os nativos, com o intuito de assustá-los ou, mais especificamente, para serem devorados vivos.
Acredita-se que os primeiros cães que chegaram da Europa vieram com Cristovão Colombo, em sua segunda viagem, no ano de 1493. Localmente, a região já contava com os cães das mais variadas cores e tamanhos, e um em particular que de tão manso, ganhou o apelido de “cão mudo”. Eram conhecidos na língua náuatle (também conhecida como asteca) pelos nomes de techichi ou itzcuintli, e já haviam sido domesticados pelos índios para serem companhia das crianças. Apesar de serem encontrados em abundância, o fato de sua carne ser consumida causou sua eventual extinção.
Cães espanhóis que entraram para a história como heróis, sendo até mesmo foco central de lendas, como Becerrillo, Leoncillo, Amadis e Bruto, fizeram parte dessa matança, que foi acentuada na Venezuela, Peru e Colômbia.
É possível nos transportarmos para o que de fato pode ter sido o massacre com os relatos de Bartolomeu de las Casas (1474-1566), um frei dominicano espanhol famoso por denunciar as brutalidades cometidas por seus compatriotas. Dentre os mais chocantes relatos, o frei afirma que os espanhóis mantinham uma espécie de açougue, no qual penduravam pedaços de índios para oferecer aos cães como alimento.
O açougue humano. Obra de Theodor de Bry.
Evidenciando a importância dos cães nessa jornada sangrenta, os trabalhos visuais de Theodor de Bry mostram em diversos episódios, claramente, os ataques caninos. De Bry nunca visitou a América do Sul e suas obras eram baseadas nos relatos dos exploradores.
Lâmina XI. Obra de Theodor de Bry.
Uma vez que o processo de colonização já estava mais estabelecido, os cães começaram a perder o protagonismo que adquiriram no começo do século, com alguns sendo oferecidos a população. Por não saber o que fazer com os cães, muitos foram soltos e se tornaram selvagens. A partir de então, por muito tempo, travou-se uma guerra contra os animais, que atacavam aldeias e comiam o gado.
A mudança veio para alguns cães, que foram reabilitados e reintroduzidos na sociedade, agora usados para a proteção, como na cidade de Lima, e para o auxílio na caça.
*Dica de Socialista Morena, baseado na pesquisa de Alfredo Bueno Jiménez, com o trabalho “Os cachorros na conquista da América – História e Iconografia” (leia aqui).
Nas conquistas, pelo mundo afora, foram cometidas muitas atrocidades.
ResponderExcluirÁs vezes, eu me pergunto, se sou mesmo humana?
Parecemos mais animais selvagens, do que os próprios animais.
Por isso, é que hoje, estamos pagando tão caro.
Agradeço pela partilha, não conhecia a origem dessa palavra.
Abraços carinhosos
Maria Teresa
eu vou te contar Teresa, adoro história...
Excluirsempre gostei, mas te falo que existem partes que preferia não saber, porque são bárbaras...
o pior de tudo, é ver que ainda nos dias atuais, alguns lugares continuam agir da mesma forma...