Foi aos onze meses que os pais observaram que algo não estava muito bem com a pequena Luana.
Com pouco mais de um ano, ela passou a ser atendida pelo setor de transplante de medula óssea e os diagnósticos foram os mais diversos. Nenhum muito preciso porque os sintomas eram incomuns.
Ela recebeu transplante de medula. O sucesso inicial que deu esperanças e fez sorrir toda a família, logo se desvaneceria.
A síndrome que apresentou, extremamente rara, foi se revelando quase insana. Os sangramentos intestinais levaram a muitas internações, a cauterizações por endoscopia, a transfusões inúmeras. Chegou a fazer quatro em um único dia.
Tentou-se cirurgia no olho direito, pois a visão foi ficando comprometida. A falta de irrigação na retina fez com que o resultado fosse o insucesso.
Sua mãe a chamava meu pequeno ipê amarelo, que floria o seu jardim.
Luana nunca reclamava de coisa alguma. Encontrou alegria em meio à dor. Sem visão, ela enxergava muito bem com suas mãos miúdas. Com a alma via luz e vultos, o que lhe parecia extremamente suficiente para ser feliz.
Rapidamente, ela ficou conhecida, conquistando médicos e enfermeiros.
Não havia quem não a desejasse atender, sempre com um sorriso no rosto, mesmo entre procedimentos dolorosos que se faziam necessários.
E logo, para amenizar tantas dores, mãe e filha criaram um código todo especial para se referirem às coisas do dia a dia.
Um código que o pessoal do hospital logo aderiu: ver a pressão era fazer puf-puf; auscultar o coração era ouvir o tum-tum; o catéter se chamava caninho; as transfusões eram o papá do caninho e o clamp do caninho era o tic-tac que prendia o cabelo dele.
E havia o Zé não qué para os dias em que Luaninha dizia não, não e não e a Maria reina para os dias em que ela fazia um pouco de birra.
Ela não chegou a completar cinco anos. Partiu, tão docemente como chegara, sem aguardar o apagar das velinhas do aniversário, tão próximo.
Na saudade, dias depois, escreveu-lhe a mãe:
Minha linda. Já é seu aniversário! Parabéns!
Aqui em casa, nada de barulho... Nem de preparativos. Nada de madrugadas enrolando brigadeiros, nem de manhãs enchendo balões.
Nada de correria para entregar convites da princesa para outras princesas. Nada de café da manhã na cama, de roupa bonita, nem de velinha para o bolo.
Aqui tudo silencia e sente sua ausência. Não tem o ranger do balanço, nem gargalhadas na varanda. Não haverá vizinhos dizendo, no dia seguinte, que ouviram sua vozinha o dia todo.
Não tem caminhada na rua, nem florzinha colhida fresca para pôr na aguinha. Só o barulho incessante do ventilador e o ping da torneira se revezam com minhas lágrimas de saudade.
Mas a rua está lá. Os vizinhos também. Ainda mora na varanda o seu balanço para que outras princesas possam brincar...
Mora aqui também o seu riso e sua alegria e posso ouvir tudo isso, se fechar os olhos por um minuto! Mora aqui todo bem e as lições que você deixou. Mora aqui um coração de mãe aflito por saber se você vai apagar velinhas aí onde está.
Amo você para sempre! Parabéns, meu anjo!
Redação do Momento Espírita, em homenagem a
Luana Costa Macedo, desencarnada em 4.11.2012.
Em 6.3.2013.
Que bonito. :(
ResponderExcluirbeijos amiga
ExcluirComovente...lindo!! Beijos meu amigo.
ResponderExcluirbeijos amiga!!!
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