Conheça a história da artista mais marcante do Brasil no exterior
por Gabriel Rocha Gaspar
Carmen Miranda pisou em Nova York como uma ilustre desconhecida. Com seu parco vocabulário em inglês, pareceu uma moça ingênua e deslocada aos olhos gringos. Ledo engano. Poucos meses depois, ela era não somente a maior estrela da Broadway como a artista mais bem paga do cinema norte-americano. Vestida de baiana, com bananas sobre a cabeça, a portuguesa de nascença – e só de nascença! – foi, e é ainda hoje, data em que completaria cem anos, o maior ícone da música e da cultura brasileiras no exterior.
Filha de um barbeiro com uma dona de casa, Maria do Carmo Miranda da Cunha veio para o Brasil com poucos meses de idade. E da janela de uma humilde pensão familiar, no número 13 da Travessa do Comércio, centro do Rio, se apaixonou pelo ritmo das ruas brasileiras. Cresceu em meio à boemia sambista, conheceu grandes compositores e intérpretes e nunca conseguiu se firmar em um trabalho "decente" – para os padrões do início do século, é claro. Vendeu gravatas e costurou chapéus, mas a mania de cantar durante o serviço lhe rendeu duas demissões.
"Ainda bem", ela pensou consigo mesma. O trabalho formal não era mesmo o negócio dela. E isso ficou evidente aos olhos do compositor e violonista Josué de Barros que, de passagem por uma festa no Instituto Nacional de Música, se apaixonou pela voz poderosa daquela menina de um metro e meio. Resolveu financiar cursos de dicção e canto, apresentá-la a gravadoras, agendar espetáculos. O auxílio luxuoso rendeu um contrato com a gravadora RCA e o posto de voz suprema do povo brasileiro. "A pequena notável", como cunhou César Ladeira, um famoso radialista da época.
Depois de uma temporada de sucesso no Cassino da Urca, Carmen virou embaixadora do samba. Viajou pela América Latina, apresentou-se em Buenos Aires ao lado da irmã Aurora e, por fim, chamou atenção de Lee Schubert, empresário americano de trânsito na Broadway. A princípio, Schubert quis levá-la sozinha para os Estados Unidos. Mas ela, que não era boba nem nada, sabia bem que sem músicos brasileiros, não dava samba. E sabia bem também que era de sumo interesse da política getulista que o Brasil ganhasse espaço como potência cultural. Não à toa, o governo brasileiro financiou a ida do conjunto completo para os Estados Unidos.
Filha de um barbeiro com uma dona de casa, Maria do Carmo Miranda da Cunha veio para o Brasil com poucos meses de idade. E da janela de uma humilde pensão familiar, no número 13 da Travessa do Comércio, centro do Rio, se apaixonou pelo ritmo das ruas brasileiras. Cresceu em meio à boemia sambista, conheceu grandes compositores e intérpretes e nunca conseguiu se firmar em um trabalho "decente" – para os padrões do início do século, é claro. Vendeu gravatas e costurou chapéus, mas a mania de cantar durante o serviço lhe rendeu duas demissões.
"Ainda bem", ela pensou consigo mesma. O trabalho formal não era mesmo o negócio dela. E isso ficou evidente aos olhos do compositor e violonista Josué de Barros que, de passagem por uma festa no Instituto Nacional de Música, se apaixonou pela voz poderosa daquela menina de um metro e meio. Resolveu financiar cursos de dicção e canto, apresentá-la a gravadoras, agendar espetáculos. O auxílio luxuoso rendeu um contrato com a gravadora RCA e o posto de voz suprema do povo brasileiro. "A pequena notável", como cunhou César Ladeira, um famoso radialista da época.
Depois de uma temporada de sucesso no Cassino da Urca, Carmen virou embaixadora do samba. Viajou pela América Latina, apresentou-se em Buenos Aires ao lado da irmã Aurora e, por fim, chamou atenção de Lee Schubert, empresário americano de trânsito na Broadway. A princípio, Schubert quis levá-la sozinha para os Estados Unidos. Mas ela, que não era boba nem nada, sabia bem que sem músicos brasileiros, não dava samba. E sabia bem também que era de sumo interesse da política getulista que o Brasil ganhasse espaço como potência cultural. Não à toa, o governo brasileiro financiou a ida do conjunto completo para os Estados Unidos.
E lá, Carmen entrou para a história do mundo: foi o primeiro – e até hoje mais sólido – estereótipo da tropicalidade; foi a primeira artista do terceiro mundo a cravar o nome na calçada da fama; foi campeã de vendagem; foi a artista mais bem paga de Hollywood. Voltou para o Brasil com a bola toda, certa de que agora seria reconhecida como o talento mundial que se tornara, acreditava que o preconceito com o repertório popular que cantava fosse coisa do passado. Em parte, era. Houve quem falasse que a recepção magnífica, com direito a show para a primeira dama, fosse exagerada para uma cantora de samba. No dia seguinte da apresentação, que Carmen inaugurou com um singelo "Good night, people!", as manchetes a chamavam de "americanizada".
Foi o início da derrocada. Carmen nunca perdeu o talento ou diminuiu o ritmo de apresentações e gravações. Voltou aos Estados Unidos, ao cinema, à Broadway. Mas a rotina incessante de trabalho a deixava agitada durante a noite, sonolenta durante o dia. Carmen passou a dormir com calmantes e acordar com estimulantes. Passava mal com relativa frequência, sofria com um casamento que descambava em escândalos domésticos. Depois de seis meses de reclusão, voltou à ativa, como se nunca tivesse saído de cena. Mas a nova velha Carmen Miranda durou pouco. Em um programa de televisão, ela caiu de joelhos, com falta de ar e foi levada de volta à sua casa, em Beverly Hills. Naquela mesma noite, em 5 de agosto de 1955, morreu abraçada a um espelho.
Por mais nostálgico que tenha sido o fim, pouco se lembra dessa imagem de uma Carmen Miranda abalada, destruída pelo trabalho, pelas pílulas e pelos amores complicados. Ela é até hoje a referência estética de um Brasil tropical, rico em cores e sons, de cultura viva e gritante. Aos cem anos, ela ganha uma mostra exclusiva na Cinemateca de Lisboa, uma empresa de conservação da produção cultural (Carmen Miranda Administração e Licenciamento, fundada por sua família), além de uma série de homenagens nas mais diversas mídias. Mas nem todas as homenagens são capazes de pagar a dívida que os brasileiros têm com essa artista, que desbravou a América do Norte e tornou nossa cultura e música referências globais.
Foi o início da derrocada. Carmen nunca perdeu o talento ou diminuiu o ritmo de apresentações e gravações. Voltou aos Estados Unidos, ao cinema, à Broadway. Mas a rotina incessante de trabalho a deixava agitada durante a noite, sonolenta durante o dia. Carmen passou a dormir com calmantes e acordar com estimulantes. Passava mal com relativa frequência, sofria com um casamento que descambava em escândalos domésticos. Depois de seis meses de reclusão, voltou à ativa, como se nunca tivesse saído de cena. Mas a nova velha Carmen Miranda durou pouco. Em um programa de televisão, ela caiu de joelhos, com falta de ar e foi levada de volta à sua casa, em Beverly Hills. Naquela mesma noite, em 5 de agosto de 1955, morreu abraçada a um espelho.
Por mais nostálgico que tenha sido o fim, pouco se lembra dessa imagem de uma Carmen Miranda abalada, destruída pelo trabalho, pelas pílulas e pelos amores complicados. Ela é até hoje a referência estética de um Brasil tropical, rico em cores e sons, de cultura viva e gritante. Aos cem anos, ela ganha uma mostra exclusiva na Cinemateca de Lisboa, uma empresa de conservação da produção cultural (Carmen Miranda Administração e Licenciamento, fundada por sua família), além de uma série de homenagens nas mais diversas mídias. Mas nem todas as homenagens são capazes de pagar a dívida que os brasileiros têm com essa artista, que desbravou a América do Norte e tornou nossa cultura e música referências globais.
por Gabriel Rocha Gaspar
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