A frase estampada na revista aberta sobre a mesa do escritório nos chamou a atenção.
Compromisso não é chegar sempre no horário. Por vezes, quer dizer perder a noção do tempo.
Tempo é algo que, hoje em dia, quase todos dizemos não ter.
Não temos tempo para o papo mais longo, quando o telefonema nos chega em horários que consideramos inapropriados.
Alegamos não ter tempo para estudar, para ler, para pesquisar. Não temos tempo para o café com os amigos, o encontro no final de semana, a confraternização com o grupo de trabalho.
Por vezes, em nome da falta de tempo, não cumprimos tarefas, no prazo estipulado, criando embaraços para a instituição ou grupo, que contava com nosso desempenho.
No entanto, de todos os compromissos e deveres de que nos furtamos, por falta de tempo, o mais grave é a ausência familiar.
Esse núcleo íntimo precisa de nossa presença. Nossa ausência continuada e, em certos momentos especiais, pode determinar a sua desestruturação e até o seu fracasso.
É assim quando um dos cônjuges se envolve, de forma excessiva, no exercício da profissão ou elege para si mais tarefas do que as horas lhe permitem.
Ser dinâmico, ativo, é saudável. Ambicionar crescimento profissional, lançar-se no voluntariado, também.
No entanto, quando tudo isso nos exige horas em demasia longe dos amores, a questão se torna nevrálgica.
Cônjuge que não recebe o alimento do carinho, da afeição, começa a alimentar carência.
E, por não considerar mais o lar como esse ninho aconchegante e acolhedor, esfria a relação, permitindo-se buscar alhures o que lhe falta.
As crianças, que requisitam atenção, se tornam esquivas.
Afinal, o pai ou a mãe não compareceu à escola no dia da sua apresentação teatral.
Chegou atrasado à homenagem aos pais, não foi ao recital assistir sua performance musical.
Nesse compasso, as crianças e os adolescentes vão se esquivando, se recolhendo para dentro de si mesmos.
De todos os compromissos humanos, os que têm a ver com afeição, são os mais preciosos.
Isso porque as lesões afetivas marcam profundamente as criaturas, influenciando, no futuro, seu próprio desempenho como ser humano.
Assim, é bom aprendermos a administrar o nosso tempo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
E, no estabelecimento da nossa grade de compromissos, assinalar algumas horas para se permitir perder a noção do tempo.
Perder a noção do tempo andando de bicicleta no parque com os filhos, jogando bola, indo ao cinema, passeando no shopping, comendo pipoca; fazendo um longo passeio pela trilha ecológica; viajando de carro, sem horário para chegar.
Sem horário para chegar porque poderá parar na beira da estrada para fotografar a paisagem; ou para admirar a carruagem do sol recolhendo-se; ou o voo encantador das aves migratórias; ou simplesmente para tomar um sorvete, sem pressa nenhuma.
Perder a noção do tempo contando estrelas, uma por uma, com seu amor.
Perder a noção do tempo para explodir de alegria, para gravar na intimidade da alma as cenas mais emocionantes.
Perder a noção do tempo com os amores não tem preço.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita.
Em 1.7.2016.
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