Dizem que sou um velho. Por vezes, você passa por mim, com um grupo de amigos e ri do meu andar lento e atrapalhado.
Você pode achar que eu não percebo os seus risos. Contudo eles me ferem, porque eu gostaria de andar rápido como fazia há tão pouco tempo. Mas as pernas não obedecem ao meu comando com presteza.
Às vezes, não consigo distinguir com clareza o letreiro do ônibus e acabo por tomar a direção errada.
Motorista, tenha um pouco de paciência comigo. Reconheço que você tem horário a cumprir, que muitos reclamam do seu desempenho, das suas freadas e da sua forma de dirigir.
Pense um pouco. Não errei por querer lhe atrapalhar, simplesmente me enganei. Pense em quantas vezes você já se enganou na vida e precisou da compreensão dos outros.
Explique-me onde descer, de preferência aquele ponto que seja menos complicado para eu retornar ao lugar onde estava e depois tomar o ônibus certo.
Ajude-me. Eu poderia ser seu avô, a quem, com certeza, você trata com carinho e atenção.
Se eu tivesse um neto como você, possivelmente não andaria sozinho pelas ruas. Ele me tomaria pela mão e me guiaria, impedindo que eu corresse tantos riscos.
Ah, não esqueça. Quando eu estiver atravessando a rua e o sinal abrir, espere um minutinho mais.
Não me apresse com buzina ou arrancada brusca. Posso tentar ser mais rápido e cair.
Você que anda pela rua e é indagado por mim a respeito de algum local, use de paciência.
Posso demorar um pouquinho para desdobrar o papel que trago no bolso com o endereço exato de onde eu devo chegar. Minhas mãos tremem e os dedos parecem rígidos.
Espere que eu pergunte e se eu não entender, explique outra vez. Pense em quantas vezes você já pediu a seus pais, seus professores, seus colegas que repetissem a explicação de algo que você não entendeu.
Procure ser claro. Fale devagar. Se possível, me acompanhe até o local mais próximo de onde eu devo chegar.
Você que está na fila do caixa eletrônico, tenha calma. Preciso fazer tudo devagar. Afinal, ainda não consegui assimilar as grandes mudanças da eletrônica.
Passar o cartão, guardar números de memória, a tal da senha e digitar... Tudo é um tanto complicado. Eu consigo fazer direitinho, se você me der um tempo.
Lembre: sou um idoso, hoje. Já fui jovem, fui ágil, preciso, produtivo.
Também fui impaciente. O tempo me ensinou a ter paciência comigo mesmo, pois já não consigo fazer tudo que desejaria. E com os outros que não conquistaram ainda a paciência.
* * *
A comunidade que despreza os seus idosos está longe do caminho da civilização. Mesmo que tecnologicamente apresente avanços surpreendentes, se não alcançou o respeito à vida humana, aos mais velhos, aos mais fracos, ainda necessita andar muito.
A mais elevada nação será aquela que souber amparar o mais fraco. Que estabelecer programas de atendimento especializado aos necessitados e primar pela atenção àqueles que se esforçaram para que as leis fossem implantadas, a economia direcionada e a felicidade florescesse nos corações da infância, da juventude e da madureza.
Redação do Momento Espírita.
Em 08.12.2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário