segunda-feira, 15 de novembro de 2010

11 coisas que você ainda não sabe sobre o diabete

O canadense Frederick Banting (1891–1941), vencedor do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1923 por ser um dos descobridores da insulina, nasceu em um 14 de novembro. Seu trabalho foi tão importante para quem sofre com altas doses de açúcar no sangue que hoje a data é reservada para o Dia Mundial do Diabete. Nela, lançam-se campanhas para informar a população sobre essa ameaça à saúde. No entanto, a julgar pelos dados recentes, muitos outros dias deveriam ser marcados no calendário para discutir o transtorno.

Ao redor do globo, 285 milhões de pessoas são diabéticas, sendo que 12 milhões delas estão no nosso país — 15% dos brasileiros padecem do problema. “E o pior é que apenas metade dessa gente sabe disso”, ressalta Carlos Eduardo Barra Couri, endocrinologista da Universidade de São Paulo, a USP, em Ribeirão Preto. Um dos motivos para esse desconhecimento tem a ver com o fato de o distúrbio geralmente ser silencioso. Ou seja, na maioria dos casos, seus estragos só serão sentidos muitos anos depois de a doença ter se instalado.

Mas, verdade seja dita, há carência de informações para o público. Foi por esse motivo que SAÚDE! resolveu recorrer a um time de especialistas para explicar o que há de mais importante e novo sobre o tema. Muita gente nem desconfia que pequenas mudanças no dia a dia fazem uma grande diferença quando o assunto é diabete. “Pesquisas indicam que pessoas sob risco de ter esse distúrbio diminuem em cerca de 60% a probabilidade de desenvolvê-lo ao modificarem seus hábitos”, relata o endocrinologista Jairo Hidal, vice-presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

1. O diabete tipo 2 não tem só a ver com maus hábitos
A doença se manifesta de duas formas. O chamado tipo 1 está relacionado à incapacidade do pâncreas de produzir um hormônio, a insulina, que tem a missão de botar a glicose para dentro das células. Essa deficiência costuma ser causada pelas próprias defesas do organismo. Já no diabético do tipo 2 — que representa 90% dos casos —, as membranas celulares resistem à entrada do açúcar, exigindo uma maior produção de insulina. Aí o pâncreas se sobrecarrega e, após um tempo, entra em colapso. Esse quadro é provocado na maioria das vezes pela dupla obesidade e sedentarismo, que tem tudo a ver com maus hábitos. Daí a pergunta: será que o tipo 2 tem um fator genético menos preponderante? Nada disso. “Cerca de 50% dos pacientes com a segunda modalidade do mal têm um histórico familiar marcante. Essa incidência diminui para 30% no tipo 1”, diz Couri. Ou seja, a tendência genética pesa até mais no tipo 2.
2. Ele causa cegueira, amputações…
Já é sabido que a doença está por trás de perda de visão ou amputações não traumáticas — isto é, as que não ocorrem em razão de um acidente. Mas aqui vem a novidade: ela é a principal causa desses infortúnios no mundo. Nos olhos, o excesso de glicose prejudica a passagem de sangue pelos capilares da retina. Com isso, a região fica desnutrida. Os membros, principalmente os inferiores, também são afetados pela falta de irrigação. Também acabam sendo acometidos por uma perda de sensibilidade. Assim, um pequeno ferimento que passa despercebido pode tomar grandes proporções. “Os dois problemas, no entanto, só acontecem quando o mal está completamente fora de controle”, ressalta Hidal.

3. ...e enfraquece os ossos
Os diabéticos têm uma ligeira tendência a ficar com o esqueleto frágil. “Quando há descontrole na doença, observamos uma diminuição da chegada de cálcio aos ossos”, relata o endocrinologista Sérgio Dib, diretor do Centro de Diabete da Universidade Federal de São Paulo. Os médicos não sabem bem o porquê, mas acredita-se que a deficiência de insulina esteja envolvida nesse fenômeno. Afinal, esse hormônio participa da construção de vários tecidos do corpo, como os músculos e, claro, a ossatura.

4. Põe em risco a gravidez e os recém-nascidos
Todas as gestantes precisam estar atentas a esse item, incluindo as não diabéticas. Isso porque, nessa etapa da vida, há uma tendência natural para que as taxas de açúcar no sangue subam. Quando o aumento é significativo, ocorre o diabete gestacional, um transtorno que eleva a probabilidade de um parto prematuro. “Como recebe um grande aporte de glicose através do cordão umbilical, o feto passa a produzir insulina demais”, aponta César Pereira Lima, obstetra da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. E daí? Daí que, assim que nasce, o bebê, geralmente maior do que a média, continua cheio de insulina. Resultado: hipoglicemia, ou seja, os níveis de açúcar no sangue despencam. “O jeito é controlar de perto a gravidez, aplicando a versão sintética do hormônio sempre que necessário. Já o bebê será avaliado e tratado para normalizar a atividade do pâncreas”, indica Lima.

5. O tipo 2 é cada vez mais comum na moçada
Muitos acham que o tipo 2 está restrito aos mais maduros — tanto assim que já foi chamado de senil — e que só o tipo 1 daria as caras desde a infância. Isso não é verdade. Devido à má alimentação e ao sedentarismo, o tipo 2 também vem sendo flagrado em crianças. “Já diagnostiquei o problema em pacientes com 10 anos”, exemplifica, preocupado, Carlos Eduardo Barra Couri. É por essas e por outras que os médicos suplicam aos pais para estimular seus filhos a praticar exercícios físicos e a comer de maneira equilibrada. Essa combinação de atitudes saudáveis ajuda a evitar a obesidade, um dos principais desencadeadores do mal na infância.
6. Está ligado a doenças neurodegenerativas
“O diabete é considerado um grande fator de risco para demências em geral”, arremata, logo de cara, Sonia Brucki, neurologista da Academia Brasileira de Neurologia, em São Paulo. Essa encrenca, quando descontrolada, compromete os vasos que irrigam o cérebro. Isso deixa os neurônios sem combustível para operar normalmente. E, como um carro, eles eventualmente param de trabalhar. Em outras palavras, a massa cinzenta perde, aos poucos, sua capacidade de armazenar e transmitir informações. Pensa que é pouco? Pois saiba que essa doença também financia derrames, que podem culminar em perdas motoras e cognitivas. Na reportagem da página 70, você verá como atenuar essas consequências por meio da prática esportiva.

7. A gordura também é culpada
Fato: quem não conhece a fundo o tema desta reportagem vê o açúcar como único vilão da história. Mas a gordura também está no banco dos réus, sobretudo no caso do diabete tipo 2. “Ela deve ser ingerida sem exageros”, adverte a nutricionista Gisele Goveia, da Sociedade Brasileira de Diabetes. É que o excedente gorduroso vai parar no abdômen. Surge, aos poucos, a famosa barriga de chope, que, além de ser um atentado contra a estética, passa a produzir substâncias perigosas para quem se tornou ou corre o risco de se tornar refém desse estorvo. “Essas moléculas agem nos receptores das células, dificultando a ação da insulina”, esclarece Sérgio Dib.

8. Não é motivo para proibições radicais à mesa
Preste atenção no que a nutricionista Gisele Goveia diz: “A lista do permitido e do proibido não existe”. As frutas, por exemplo, possuem um tipo de açúcar chamado frutose. Mesmo assim, não devem ser banidas do cardápio. Pelo contrário. Como qualquer outro indivíduo, o diabético deve manter uma alimentação balanceada, com opções variadas no prato. “Se ele respeitar o limite de ingestão de carboidratos, que deve ser estabelecido por um profissional, pode se dar ao luxo de comer até um doce de vez em quando”, informa Gisele.

9. Também se manifesta em quem é magro
Não pense que vamos falar dos que têm diabete do tipo 1. Afinal, é bastante conhecido que essa variação do problema não surge por causa dos quilos extras. Diferentemente dela, no tipo 2 a obesidade é um componente central. Mas mesmo o pessoal com a barriga sequinha ainda deve ficar esperto. “Já vi muita gente que come mal e não engorda. A alimentação desbalanceada é, por si só, um risco”, analisa Couri. Outra coisa a levar em consideração são os esportes. Pessoas magras podem desenvolver o distúrbio só por serem sedentárias.

10. É potencializado quando se dorme mal
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, uma pesquisa quentíssima mostra, em ratos, que a apneia contribui para catapultar as taxas de açúcar. “Reduzimos o nível de oxigênio dos animais durante o sono, assim como acontece com os seres humanos que roncam”, explica o pneumologista Denis Martinez, orientador do estudo e coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Sono da UFRGS. “Depois de 21 dias, eles estavam com a glicemia bem alta”, revela. A relação entre diabete e sono, no entanto, vai além. Dormir pouco já representa um perigo. Isso porque o corpo vai precisar de energia adicional para enfrentar a jornada. Assim, quem não repousa direito à noite acaba apelando para bombas calóricas cheias de açúcar e gorduras ao longo do dia. “Fora que, quando dormimos mal, o organismo produz mais cortisol, o hormônio do estresse, para nos mantermos acordados. E isso agrava o diabete”, conclui Martinez.

11. Muito além da glicemia
É vital manter os níveis de açúcar sob rédeas curtas. Os médicos pedem, pelo menos a cada três meses, exames para ver suas taxas. “Medimos o índice em jejum e duas horas após a ingestão de um copo com 75 gramas de glicose”, conta Couri. “E fazemos o teste de hemoglobina glicada, que nos acusa se o paciente controlou direito a doença por meio da análise dos glóbulos vermelhos.” Mas, como o diabete está ligado a turbulências no coração — 80% das suas vítimas morrem de problemas cardiovasculares —, ele deve ser acompanhado. O LDL, a versão ruim do colesterol, que fomenta os entupimentos arteriais, precisa estar abaixo dos 70 mg/dL. A pressão e os triglicérides também têm que se manter dentro dos conformes.
INSULINA PARA O ALZHEIMER?

Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro sugere que a reposição desse hormônio, fundamental para muitos diabéticos, ajuda quem luta contra esse blecaute cerebral. Ao menos em cobaias, os remédios potencializadores da insulina combateram a substância beta-amiloide, uma das responsáveis pelo assassinato de neurônios. “Fora isso, quando há insulina no cérebro, a glicose entra mais fácil nas células, melhorando a atividade neuronal”, acrescenta Sonia.

FALSO MAGRO

Tem gente que está dentro do limite de peso mas exibe uma barriga proeminente. E, diversamente do que esses indivíduos podem imaginar, isso já é motivo para fi car de olho nos índices de glicose no sangue. Essa gordura de sobra armazenada no ventre arrasa os receptores de açúcar das células. Hoje, magro saudável é quem possui a circunferência abdominal dentro dos limites — menos de 90 centímetros para homens e 80 para mulheres.

DIAGNÓSTICO PRECOCE

Essa é a melhor maneira de combater o diabete. E, para isso, basta fi car atento aos tópicos desta lista: sedentarismo, hipertensão, taxas de colesterol ou triglicérides altas, ovário policístico, obesidade, histórico familiar. Se você se encaixa em algum deles, está mais propenso a essa baita chateação. Por isso, é imprescindível consultar um médico para receber as orientações adequadas. Outro ponto que merece atenção é a idade. A Associação Americana de Diabetes recomenda a indivíduos acima de 45 anos que, mesmo sem apresentar nenhum dos fatores descritos acima, façam exames para medir a glicose pelo menos a cada três anos.

Fonte: http://saude.abril.com.br/

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