segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Vá com Deus Minha Mãe Amada...


A primeira lembrança que tenho de alguém nesta vida é de minha mãe.
Ela uma vez me perguntou o porque que adoro tanto uma foto dela em especial e disse que é porque é aquele rosto, daquela foto, que tenho como minha primeira recordação.
Fui o primeiro filho dela e ela era totalmente inexperiente.
Minha mãe era muito inocente e não sabia de muita coisa a respeito de sexo, de onde nascem os bebês e tudo mais.
Sua mãe faleceu quando ela tinha apenas 18 anos e suas irmãs nunca a ensinaram sobre isso.
Fiquei sabendo anos depois, que quando eu estava para nascer, ela ainda não sabia por onde eu ia sair...
Isso mostra bem quem era minha mãe, uma pessoa totalmente ingênua...
Não confundam ingenuidade com ignorância...
Ela sempre fora uma pessoa muito culta, apenas desconhecia a sexualidade, a maldade...
Quando eu tive a minha primeira prisão de ventre e muitos gazes, ela chegou a escrever uma carta para mim, dizendo que estava desesperada, não sabia o que estava acontecendo, mas que ia me levar ao hospital e estava orando para que tudo desse certo...
Acho que peguei essa mania com ela de escrever...
Minha mãe foi maravilhosa e muito exigente também.
Ela me educou rigidamente.
Postura, talheres e etc...
Porém, me deu uma vida de fantasia...
Não havia um sábado ou domingo que não houvesse passeio.
Durante a semana, sempre indo ao parque da Água Branca, no Bairro das Perdizes, onde morei até meus quatro anos.
Depois, Ibirapuera, quando mudamos para o Itaim Bibi.
Final de semana era em parques, zoológicos, o famoso PlayCenter, cidades como Itu, Embu das Artes e etc...
Era sempre eu e ela....
Quando eu tinha meus 2, 3 anos, ela tinha crises enormes de enxaqueca e pedia para eu ficar quietinho, porque ela precisava deitar.
Eu ficava mexendo no cabelo dela até que ela adormecesse.
Minha mãe foi uma mãe presente em toda minha infância...
Eu a admirava...
Mesmo não entendendo da vida, eu a via fazendo tudo para o meu bem estar, do meu pai, de nossa família.
Ela chorava às vezes, contava sua tristezas e angústias para mim, mesmo eu não entendo bem o que estava acontecendo.
Era uma leoa quando alguém tentava mexer comigo...
Ela me ensinou a gostar das pessoas pelo que elas são por dentro, tratar todos bem, ajudar sempre que possível qualquer pessoa...
Me ensinou a nunca desistir, batalhar sempre, sempre ser honesto.
Ela sempre falava que podemos enganar qualquer pessoa, mas nunca Deus, que sempre estava olhando tudo que fazemos...
Ela sempre tentou me ajudar, a me mostrar tudo que podia, para que eu não sofresse como ela sofreu...
Nasceu caçula de uma família de imigrantes japoneses, onde a diferença dos irmãos mais velhos, passava dos 10 anos, sendo que tinha sobrinhos da idade dela.
Fora mimada pela mãe que já não tinha saúde e pelo pai que queria que ela fosse diferente, estudasse.
Minha avó não a ensinou a lavar, passar ou cozinhar como fez com as outras filhas, o que causou infelizmente um grande atrito entre as irmãs e minha mãe.
Apanhava das irmãs e tudo mais...
Quando a mãe dela faleceu, tudo piorou.
Uma de suas irmãs mais velhas, já casada e com filhos, fora morar em São Paulo e meu avô pediu para que ela levasse minha mãe junto para que estudasse. Deu dinheiro para isso, uma fortuna na época.
Mas, parece que a irmã a colocou para estudar numa escola para aprender a cortar cabelo em vez disso, afinal naquela época, ou era isso ou era costura, imagina colocar a "dondoquinha" para estudar...
A irmã decidiu ir para o Sul do país e minha mãe se recusou a ir junto, ficou na casa de uma "obasan", dona de um salão, vivendo a troco de uma cama e comida.
A irmã, simplesmente virou as costas a ela e nem a família contou, sendo que todos, sem exceção, tinham uma vida financeira muito boa.
Mas, minha mãe também se recusava a voltar a morar com eles e os motivos, devem ficar aonde estão, no passado.
Ela conheceu Dona Balbina Sant'anna, que virou sua madrinha de casamento e minha de batizado.
Vó Bina, como era chamada por mim, não tinha filhos e acabou adotando praticamente minha mãe.
Senhora da sociedade, fina, educada e muito bem financeiramente, decidiu reeducar minha mãe nos princípios ocidentais, que minha mãe desconhecia.
Continuou a trabalhar no salão e voltou a estudar.
Depois de alguns anos conheceu meu pai e se casou.
Não foi feliz no casamento.
Fez tudo para dar certo, lutou muito, mas não deu certo.
Largou meu pai, e foi a luta com seus dois filhos.
Minha mãe sempre exigiu muito de mim, sempre contou comigo e confesso que muitas vezes isso me desgastou.
Mas, sempre fomos amigos, amigos mesmo além de mãe e filho.
Contávamos tudo um para o outro sempre.
Passamos na minha adolescência uma fase bem tumultuada, é verdade, pois ambos estávamos passando por grandes problemas.
Ela com o fim do casamento e se vendo com dois filhos e eu na fase mais chata que um ser humano pode passar rs
Mas, sempre estávamos juntos.
Eu não conheço mulher no mundo mais lutadora do que ela.
Não conheço nenhuma mãe melhor do que ela.
Não conheço exemplo melhor do que o dela...
Quem conheceu a Dona "Toyo" sabe o quanto ela amava a vida, o quanto lutou por ela nesses últimos anos...
Foi com ela que aprendi que a distância física não importa...
Ela se sentia mais perto de mim, mais conectada a mim do que a qualquer pessoa e eu idem...
Nos falamos no domingo, ela estava muito bem...
Me disse que estava preocupada porque estava sonhando muito comigo...
E eu não tive coragem de dizer a ela o porque....
Eu estava bem, mas sabia que ela iria partir, pois já tinha sido avisado...
A partida do Cão e dela já tinham sido programadas e estavam ligadas...
Eu sei que ela terminou sua missão aqui na Terra, que agora vai ser assistida por espíritos amigos, que estão muito felizes com sua chegada, mas não é fácil.
Mas, eu não quero sentir só tristeza e dor, porque ela é uma mulher incrível e merece ser lembrada de maneira alegre e pela grande mulher que foi aqui nesta Terra!
Mas, confesso, não está sendo fácil perder as duas pessoas que mais amo em questão de dias...
 

2 comentários:

  1. Meu amigo querido!
    O que dizer em um momento triste desse?
    Que palavras consoladoras?
    Só nós mesmo sabemos o tamanho e a intensidade de nossa dor...
    Só te digo que estou aqui,sempre!!!!
    Você me conhece e sabe que te desejo tudo de bom.
    Se pudesse...
    Arrancaria e dividiria essa dor com você...
    Mas neste momento,posso te dar minha mais sincera e verdadeira amizade,e um abraço quente e reconfortante ( com muito carinho).
    Te adoro meu amigo especial,muito mais que especial...

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    1. só a certeza da amizade já conforta amiga em momentos como esse.
      não há nada a fazer...
      só o tempo que acredito que irá cicatrizar essa ferida...
      obrigado por tudo...
      beijos

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