Madonna não nega: há muito mais do que algumas referências às suas experiências em "W.E.", filme que ela dirigiu sobre Wallis Warfield Simpson, a polêmica socialite norte-americana por quem o rei Eduardo VIII da Grã-Bretanha abdicou do trono em 1936.
"Só isso, obviamente, já é um grande atrativo", ela explica. "Achei que poderia me identificar. A sequência de cartas dela que leio no filme? Eu também poderia ter escrito algumas, tipo: 'Puxa, será que uma garota não pode ter um pouco de paz?'. Mas, é, foi isso mesmo. Acho que rolou meio que uma conexão simbiótica com a personagem."
Madonna é, sem sombra de dúvida, uma das pessoas mais famosas do planeta, ao mesmo tempo admirada e criticada, talvez mais do que qualquer contemporâneo seu, mas tem poder _ e dinheiro, por que não? _ para fazer o que bem entender. Ela ainda grava e lança álbuns e, pelo visto, se prepara para mais uma turnê que, sem dúvida, será gigantesca.
Entretanto, o status de ícone de que goza no cenário musical nunca se traduziu em sua carreira de atriz; embora tenha agradado a público e crítica em "Procura-se Susan Desesperadamente" (1985), "Dick Tracy" (1990), "Uma Equipe Muito Especial" (1992) e "Evita" (1996), o público ignorou solenemente "Surpresa de Xangai" (1986), "Corpo em Evidência" (1992), "Sobrou para Você" (2000) e "Destino Insólito" (2006).
Sem se deixar abalar, ela continua investindo no cinema e, em "W.E.", passou também a apostar na direção.
O filme, que estreia nos EUA em três de fevereiro, traz Madonna atrás das câmeras e como coautora do roteiro. A história se passa nos anos 30, acompanhando o romance entre Wallis (Andrea Riseborough) e Edward (James D'Arcy), e em 1998, quando Wally (Abbie Cornish) foge de seu marido violento durante algumas horas por dia para admirar os pertences do Duque e Duquesa de Windsor _ título com o qual Edward e Wallis ficaram conhecidos depois da abdicação _ que estão para ser leiloados na Sotheby's. De fato, Wally ganhou esse nome por causa de Wallis e se torna obcecada pela duquesa, chegando até a se imaginar conversando com ela.
Madonna está de bom humor ao chegar para falar sobre "W.E." no Waldorf-Astoria de Manhattan. Estilosa como nunca aos 53 anos, a diva usa um vestido azul, cabelo solto, luvas sem dedos pretas e um anel de caveira no indicador direito.
A primeira vez que ouviu a história de Wallis e Edward foi durante o ensino médio, em Bay City, Michigan, onde a futura cantora ainda era Madonna Louise Veronica Ciccone.
"Foi na aula de História", ela conta, "mas todo mundo só fica sabendo da abdicação de Eduardo VIII de forma bem vaga, né? Bom, não pensei mais no assunto até que me mudei para a Inglaterra".
"Eu queria muito conhecer o país para onde tinha acabado de me mudar", ela relembra, "porque não queria me sentir uma forasteira. Como eu tinha muita curiosidade sobre a família real e a história da monarquia, comecei a ler sobre Henrique VIII e Elizabeth I, aí acabei lendo sobre a rainha Vitória, o que, consequentemente, me levou a George V e Eduardo VIII".
"Ali, eu parei", Madonna admite, "porque, até então, não tinha lido sobre nenhum rei que tivesse abdicado do trono, certamente não pela mulher que amava. Aquilo me deixou muito curiosa e, de certa, forma, tinha dificuldade para entender como um homem podia abrir mão de tanto poder".
"Tentei entender a natureza daquele amor, daquele relacionamento, o que eles fizeram um pelo outro, o que deram um ao outro e o que ela tinha de tão especial, misterioso, magnético e poderoso a ponto de levá-lo àquele sacrifício", ela continua. "Foi então que a minha pesquisa foi mais a fundo."
Escrever o roteiro foi muito mais fácil do que dirigi-lo, confessa Madonna, que antes só tinha dirigido a comédia "Sujos & Sábios" (2008).
"Há menos gente envolvida", ela explica, "e você tem muito mais liberdade quando está escrevendo, é óbvio. Nem dá para ter muita gente dando pitaco. Quando está no set como diretora, há mil pessoas para todo lado, a pressão do tempo e zilhões de coisas que devem ser feitas num período mínimo".
"É por isso que digo que a verdadeira liberdade está em escrever o roteiro," Madonna insiste, "porque, na hora de dirigir, você tem que se desdobrar em duas: uma, o seu lado prático que sabe que há um tempo 'x' para terminar um trabalho 'y'; a outra é o seu lado sonhador, através do qual tem que canalizar a energia e capturar aquele sonho. Conseguir o equilíbrio entre as duas é um desafio e tanto".
O filme já estreou em algumas partes do mundo, causando reações contraditórias. Madonna mal reage quando indagada se algumas pessoas odeiam "W.E." pelo simples fato de ter sido feito por ela, pois acreditam que a estrela já tem sucesso mais que suficiente.
"Não sei a intenção", diz Madonna. "Não posso falar por ninguém. Você vai ter que perguntar isso a elas."
E também tem a questão de "O Discurso do Rei" (2010), que usa a relação de Wallis e Edward para explorar uma história totalmente diferente _ a do irmão do rei, que o sucedeu como George V _ que ganhou o Oscar de Melhor Filme e pode ter roubado parte do impacto de "W.E.".
Madonna admite que não sabe o que pensar sobre ele.
"Embora eu tenha ficado feliz por 'O Discurso do Rei' _ afinal, de certa forma, abre caminho para o meu filme e dá ao público um ponto de referência _ a única coisa de que não gostei (além do fato de como Wallis Simpson foi mostrada) foi que não enfatizaram a união que havia entre os dois irmãos. Eram superapegados, o que tornou o exílio de Edward ainda mais penoso, pois não podiam mais se comunicar."
"Eu me senti mal porque sabia que aquilo não retratava a verdade," a loira insiste. "Achei que o relacionamento entre o rei e o terapeuta foi o grande destaque e, sim, foi um bom preâmbulo para a introdução do meu trabalho porque já vão saber de quem se trata e o clima todo antes e depois de Edward se tornar rei."
Além de "W.E.", Madonna está envolvida em vários outros projetos; no ano passado, ela e a filha, Lourdes, lançaram a coleção Material Girl, e a loira vai lançar outra, a Truth or Dare by Madonna, ainda este ano. Seu 12º álbum, "M.D.N.A.", sai em março.
Antes disso, porém, ela foi escalada para se apresentar no intervalo do Super Bowl XLVI, em cinco de fevereiro.
"Meu Deus, estou supernervosa", Madonna confessa. "Estou apavorada. São oito minutos para aquecer o público, doze para fazer uma apresentação sensacional e mais sete para acalmar todo mundo. Isso é que é pressão!"
Por Ian Spelling, The New York Times News Service/Syndicate
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