Por muitos anos, Patricia Crown viveu intrigada com os jarros cilíndricos de cerâmica encontrados nas ruínas do Chaco Canyon, o grande complexo de habitações de pedra de múltiplos pavimentos aninhado em meio ao planalto árido e escarpado do Novo México. Eles não se pareciam em nada com as vasilhas e cântaros que Crown havia encontrado anteriormente na região.
Alguns historiadores acreditavam que os moradores de Chaco, ancestrais do moderno povo pueblo que se espalhou pelo sudoeste do atual território dos Estados Unidos, usavam esses cilindros como tambores, por meio de peles de animais estendidas por sobre as aberturas, enquanto outros estudiosos os classificavam como objetos sacros.
Mas a resposta é mais simples, ainda que não menos intrigante, de acordo com estudo de Crown publicado na última terça-feira pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences: os jarros eram usados para beber chocolate líquido. As descobertas dela oferecem a primeira prova do uso de chocolate na América do Norte ao norte da fronteira mexicana.
Como é que o antigo povo pueblo, instalado em um deserto a cerca de dois mil quilômetros de distância do cacaueiro mais próximo, dispunha de cacau? Crown, antropóloga da Universidade do Novo México, constatou que o milho e o feijão se espalharam pelo sudoeste dos Estados Unidos depois de serem domesticados no sul do México.
Escavações anteriores em Pueblo Bonito, a maior das estruturas do complexo de Chaco, haviam identificado araras escarlates e outros itens importados. Dorie Reents-Budet, curadora do Museu de Belas Artes de Boston e pesquisadora associada da Smithsonian Institution, é especialista nos vasos cilíndricos dos maias e diz que uma sofisticada rede comercial estava em operação na Mesoamérica e se estendia até Chaco, ao norte, e até o Equador e a Colômbia, no sul.
Os vasos maias, decorados com cenas da corte e hieróglifos, eram usados para beber chocolate em ocasiões cerimoniais e banquetes suntuosos, diz Reents-Budet. Produto dispendioso e de luxo, os grãos de cacau eram fermentados, torrados e moídos, e depois misturados com água e condimentos; a mistura era mexida para formar espuma. Faria sentido servir essa bebida em um recipiente especial, ela diz.
"É como se você fosse dar um jantar no qual pretende servir champanhe", ela afirma. "Para servir champanhe, todo mundo usa suas melhores taças". Depois de um diálogo com Reents-Budet sobre a semelhança entre a cerâmica maia e a do Chaco, em 2007, Crown conta que teve a idéia de pedir uma verificação de resíduos de cacau nas jarras do povo pueblo.
Ela recorreu a W. Jeffrey Hurst, analista bioquímico sênior da Hershey, a fábrica de chocolate, cujos superiores permitem que ele colabore em testes de cerâmicas mesoamericanas há duas décadas. Em 2002, Hurst foi co-autor de um estudo, publicado pela Nature, no qual demonstrava que os antigos maias já estavam usando cacau em 600 AC, o que representa um recuo ao passado de cerca de mil anos quanto aos primeiros indícios químicos do uso de cacau.
Crown apresentou cinco lascas de jarras ao laboratório de Hurst, que as sujeitou a cromatografia líquida de alto desempenho e a testes de espectroscopia de massa. Os testes confirmaram a presença de teobromina, o marcador biológico do cacau, em três dos fragmentos. "Os resultados foram completamente conclusivos", disse Hurst, que é co-autor do novo estudo, com Crown.
Os fragmentos de jarros estavam entre os 200 mil artefatos escavados nas lixeiras de Pueblo Bonito, uma povoação com 800 cômodos. Eles datam de entre 1100 e 1125, quando a civilização de Chaco estava em seu pico.
Uma expedição anterior havia descoberto 11 jarros cilíndricos sob uma sala em Pueblo Bonito. Os jarros, de argila local, tem cerca de 25 centímetros de altura e ostentam desenhos geométricos em preto sobre um fundo branco, diz Crown, que é especialista em cerâmicas de Pueblo.
Crown especulou que o povo do Chaco bem poderia estar seguindo as práticas rituais maias para o consumo de chocolate, dadas as semelhanças encontradas entre os recipientes destinados à bebida em ambas as civilizações.
"Provavelmente, o chocolate não era algo que todo mundo consumisse", ela afirma. "É provável que o produto fosse destinado apenas ao consumo de um determinado segmento da sociedade".
Os planos de Crown para a seqüência do trabalho envolvem procurar implementos que poderiam ter sido usados na preparação ritual da bebida, e determinar se ela era apreciada também em outras regiões da área sudoeste dos Estados Unidos. Por enquanto, ela se sente gratificada por ter conseguido ampliar o conhecimento sobre os antigos moradores da região de Chaco.
"A maior parte do trabalho que fazemos como arqueólogos têm natureza interpretativa, e interpretações podem mudar ao longo do tempo", ela disse. "É raro que encontremos algo de tão definido como isso, e que represente uma resposta clara para uma pergunta. A sensação é ótima".
Alguns historiadores acreditavam que os moradores de Chaco, ancestrais do moderno povo pueblo que se espalhou pelo sudoeste do atual território dos Estados Unidos, usavam esses cilindros como tambores, por meio de peles de animais estendidas por sobre as aberturas, enquanto outros estudiosos os classificavam como objetos sacros.
Mas a resposta é mais simples, ainda que não menos intrigante, de acordo com estudo de Crown publicado na última terça-feira pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences: os jarros eram usados para beber chocolate líquido. As descobertas dela oferecem a primeira prova do uso de chocolate na América do Norte ao norte da fronteira mexicana.
Como é que o antigo povo pueblo, instalado em um deserto a cerca de dois mil quilômetros de distância do cacaueiro mais próximo, dispunha de cacau? Crown, antropóloga da Universidade do Novo México, constatou que o milho e o feijão se espalharam pelo sudoeste dos Estados Unidos depois de serem domesticados no sul do México.
Escavações anteriores em Pueblo Bonito, a maior das estruturas do complexo de Chaco, haviam identificado araras escarlates e outros itens importados. Dorie Reents-Budet, curadora do Museu de Belas Artes de Boston e pesquisadora associada da Smithsonian Institution, é especialista nos vasos cilíndricos dos maias e diz que uma sofisticada rede comercial estava em operação na Mesoamérica e se estendia até Chaco, ao norte, e até o Equador e a Colômbia, no sul.
Os vasos maias, decorados com cenas da corte e hieróglifos, eram usados para beber chocolate em ocasiões cerimoniais e banquetes suntuosos, diz Reents-Budet. Produto dispendioso e de luxo, os grãos de cacau eram fermentados, torrados e moídos, e depois misturados com água e condimentos; a mistura era mexida para formar espuma. Faria sentido servir essa bebida em um recipiente especial, ela diz.
"É como se você fosse dar um jantar no qual pretende servir champanhe", ela afirma. "Para servir champanhe, todo mundo usa suas melhores taças". Depois de um diálogo com Reents-Budet sobre a semelhança entre a cerâmica maia e a do Chaco, em 2007, Crown conta que teve a idéia de pedir uma verificação de resíduos de cacau nas jarras do povo pueblo.
Ela recorreu a W. Jeffrey Hurst, analista bioquímico sênior da Hershey, a fábrica de chocolate, cujos superiores permitem que ele colabore em testes de cerâmicas mesoamericanas há duas décadas. Em 2002, Hurst foi co-autor de um estudo, publicado pela Nature, no qual demonstrava que os antigos maias já estavam usando cacau em 600 AC, o que representa um recuo ao passado de cerca de mil anos quanto aos primeiros indícios químicos do uso de cacau.
Crown apresentou cinco lascas de jarras ao laboratório de Hurst, que as sujeitou a cromatografia líquida de alto desempenho e a testes de espectroscopia de massa. Os testes confirmaram a presença de teobromina, o marcador biológico do cacau, em três dos fragmentos. "Os resultados foram completamente conclusivos", disse Hurst, que é co-autor do novo estudo, com Crown.
Os fragmentos de jarros estavam entre os 200 mil artefatos escavados nas lixeiras de Pueblo Bonito, uma povoação com 800 cômodos. Eles datam de entre 1100 e 1125, quando a civilização de Chaco estava em seu pico.
Uma expedição anterior havia descoberto 11 jarros cilíndricos sob uma sala em Pueblo Bonito. Os jarros, de argila local, tem cerca de 25 centímetros de altura e ostentam desenhos geométricos em preto sobre um fundo branco, diz Crown, que é especialista em cerâmicas de Pueblo.
Crown especulou que o povo do Chaco bem poderia estar seguindo as práticas rituais maias para o consumo de chocolate, dadas as semelhanças encontradas entre os recipientes destinados à bebida em ambas as civilizações.
"Provavelmente, o chocolate não era algo que todo mundo consumisse", ela afirma. "É provável que o produto fosse destinado apenas ao consumo de um determinado segmento da sociedade".
Os planos de Crown para a seqüência do trabalho envolvem procurar implementos que poderiam ter sido usados na preparação ritual da bebida, e determinar se ela era apreciada também em outras regiões da área sudoeste dos Estados Unidos. Por enquanto, ela se sente gratificada por ter conseguido ampliar o conhecimento sobre os antigos moradores da região de Chaco.
"A maior parte do trabalho que fazemos como arqueólogos têm natureza interpretativa, e interpretações podem mudar ao longo do tempo", ela disse. "É raro que encontremos algo de tão definido como isso, e que represente uma resposta clara para uma pergunta. A sensação é ótima".
Nenhum comentário:
Postar um comentário